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PRETO, NEGRO...POLITICAMENTE CORRETOS
Rubemar Costa Alves

Mãe senhora e filha adulta alugaram uma casinha de fundos. A casa da frente, enorme, ia até uma varanda fechada com tijolos furados, de modo que a garotinha espiava as duas mulheres e dava gritinhos de cumprimento se as inquilinas voltassem da rua com uvas verdes ou biscoitos amanteigados. Adivinhadeira! Menina simpática e educada – não pedia com a voz, somente com aquele ainda olhar de anjinho guloso.
          Carteiro passou e a criança recebeu a correspondência – lia pouco ainda, mas conhecia os símbolos nos envelopes e logo aprendeu os nomes das novas moradoras. Segunda-feira. Mãe e filha almoçando, a guria jogou as cartas no sofá, botou a mão no estômago e saiu assustada após uma exclamação de horror: “Ai, que nojo... Comendo urubu!!!”
          Nada disso. As mulheres da casa nem haviam reparado......... Verdade!
          Receberam parentes no domingo para a famosa comida carioca – feijão preto + um mínimo de 7 salgados (lá em Paris, há muitos anos, o maestro VILLA esbofeteara um músico famoso quando este viu aquela estranha fervedura “noir” e nem teve tempo de completar a frase altamente ofensiva a um brasileiro, ilustre ou não: “C’est une m.........”). Naquela manhã, mãe matou galinha do aviário e aproveitou o sangue fresquinho para fazer arroz ao molho pardo pois o branco, da véspera, terminara (e com ele a couve picada refogada, a farofa e os pedaços de laranja que dariam colorido à refeição). Dois copázios com refrigerante de cola e dois pratinhos adiantando a sobremesa: bolo de chocolate coberto com massa de brigadeiro. “Escuridão” total.........
          A senhora não estava acostumada com calça comprida, mas para viagem curta num feriadão, meses antes, comprara uma imitação de jeans, tecido de lã macia, manchou com respingos brabos de água sanitária, ideia prática foi tingir de preto – bom traje num inverno rigoroso como o daquele julho – blusa rósea, cor predileta; a filha fizera compras diversas no Saara (algumas ruas próximas com lojas na maioria populares) e ganhara como brinde uma blusa preta de malha, frase “Black is beautiful” em prateado, traje prático para ir trabalhar na escola secundária, aula de leitura e dicionário sem uso de giz, usando calça neste dia azul claríssimo.
          Na estante de livros, por acaso, um cantinho para a coleção de sapos (animaizinhos ecologicamente corretos) e corujas (símbolo grego da sabedoria). Símbolos são culturais, variáveis significados aqui, ali ou acolá... Macaquinhos soltos no Oriente, nada a ver com os nossos macaquinhos no sótão...
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NOTAS DO AUTOR:
URUBU – Habita todo o território brasileiro. Envergadura de 2.40m, peso de 3 a 5kg, cerca de 85cm de comprimento. Caça proibida porque é considerada ave importante na limpeza do meio ambiente: quando muitos animais são exterminados por doenças, ele ajuda a controlar a epidemia, comendo os mortos e agonizantes. No folclore; 1-coitado tem má fama – animal de estimação das bruxas; 2-“Urubu malandro”, dança da região norte do Estado do Rio de Janeiro, surgida nos anos 1800 sem compositor definido; 3-com aspecto positivo, toma parte em muitas estorietas (tradicionais de bichos, desenhos animados e HQ modernas) e também canções populares do tempo do chorinho; 4-mascote do Flamengo, vestiram-no de Prada (marca italiana da moda: luxo e status) numa comemoração de campeonato.

              F I M



Biografia:
PARVUS IN MUNDUS EST. (O MUNDO É PEQUENO DENTRO DE UM LIVRO) Ser dedicado, paciente, ousado, crítico, desafiador e sobretudo enlighned são adjetivos de um homem cosmopolita que gostaria de viver mais duzentos, ou quem sabe trezentos anos para continuar aprendendo e ensinando. Muitos de nós acreditam que uma vida de setenta, oitenta anos é muito longa, contudo refuto esse pensamento, pois estas pessoas não sabem do que estão falando. Sempre é tempo de aprender, esquadrinhar opiniões, defender, contestar ou apoiar teses, seguir uma corrente filosófica (no meu caso, a corrente kantiana), não necessariamente crer num ser superior, mas admirar e respeitar quem acredita nele. Entender a diversidade de costumes e culturas denominados de forma polissêmica nas diferentes partes do mundo, falar um ou dois idiomas, se perguntar o porquê e tentar encontrar respostas para as guerras, a segregação racial, as diferenças étnicas, o fanatismo religioso, o avanço tecnológico, o entendimento político. Enfim, apenas estes temas já levaria uma vida para se ter uma compreensão média. A leitura é o oráculo para estas informações, é ela que torna o mundo cada vez menor capaz de se acomodar nas páginas de um livro. É por isso que se diz que não há fronteiras para quem lê. Atualmente as pessoas confundem Balzac com anti-inflamatório, Borges com azeite, Camilo Castelo Branco com rodovia estadual, Lima Barreto com laranja de determinado município paulista, Aristóteles com marca de carro e por aí vai. Embora, eu tenha dissertado sobre o conhecimento culto, os meus trabalhos publicados aqui demonstram o dia a dia das pessoas comuns narrados através de divertidas e curiosas estórias. Meu público alvo são as mulheres. É para elas que escrevo, pois são elas possuidoras de sensibilidade capaz de entender o conteúdo do meu trabalho.
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