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AMIGO NA TELA DA TEVÊ
Rubemar Costa Alves

Faz alguns anos, já...
          MEU AMIGO fez mistério do assunto, mas disse que iria aparecer na tela e EU convidei algumas pessoas para a tarde de domingo.
          Programa de auditório, gravado, às vezes ELE era focalizado numa das cadeiras, mas NÓS não sabíamos ainda do que se tratava. Entraram cantores, plateia na tevê cantava junto, aplaudia, comediantes em piadas avulsas, gargalhadas, números de dança, até culinária rápida com ator e atriz em dupla...
          Na minha sala – pelo entusiasmo da cerveja que ELE trouxe, ou não... – às vezes cantávamos também. Lanche e conversa fiada, entre NÓS em casa, na hora dos comerciais. O AMIGO apenas ria, em suspense.
          Aí, a moça do programa fez cara de triste, chorou assim umas lagriminhas e disse que, para surpresa dela mesma, era o último dia de apresentação...... Adeus, programa! E iria chamar os últimos premiados pelos patrocinadores na semana anterior, cinco pessoas. Bastava carta dizendo ser telespectador.
          “Dona Fulana de Tal...”
          Vimos NOSSO AMIGO se erguer e subir ao palco.
          Na sala, ELE torcia as mãos, contente... “Estou bonito, estou?”
          A moça da tevê pediu explicações. ELE disse estar ali representando a amada sogra e recebeu os prêmios.
          Gente, muita coisa! Igual toda semana. Panela de pressão, forma de alumínio para bolo, uma caneca de louça com as palavras pintadas “Eu me amo”, três latas de doce em calda a escolher (leu bilhetinho onde a sogra-segunda-mãe preferia pêssego - rejeitou ameixa preta e figo), cinto e carteira de couro (pediu modelo masculino, para si próprio), três metros de um tecido estampado, uma tesoura grande para costura e assinatura mensal de determinada publicação sobre economia e investimentos.
          Pediu licença para beijar no rosto a loura do palco, agradeceu emocionado, carregou os brindes, empilhou tudo na cadeira ao lado... vazia.
          (Vazia? Auditório cheião? Bom, entendi tudo depois! Cadeira reservada para... os brindes “dele”.)
          A moça se refez e chamou o segundo premiado. Ainda fez piada: “Mulher de novo?! Dona Fulana de Tal...”
          E novamente NOSSO AMIGO subiu ao palco. Explicou que era para a cunhada. Agora latas de ameixa preta – esclareceu que era para o docinho chamado “olho-de-sogra”. Novo beijo na loura, agora na testa. Empilhou os prêmios no chão.
          “Dona Fulana de Tal...”
          Terceira subida ao palco. Em nome da sua “cara metade” (expressão vulgar, EU acho). De novo ameixa preta.
          A loura nos pareceu honesta e intrigada. “Mas quantas cartas afinal de contas a sua família mandou?”
          “Duzentas, talvez. Até a criançada ajudou a escrever e envelopar.”
          Só restava agora beijar a mão da moça.
          A pilha de prêmios ficou altíssima.
          Mais duas pessoas premiadas... sem interesse, desconhecidas para NÓS.
          “Sorte é sorte!” – disse a esposa, sentada perto de mim. (Tripla? Impossível.)
          Foi uma tarde agradável, divertida, não posso negar.
          Mas EU sou pior que São Tomé e resolvi pesquisar.........
          Não posso garantir que tenha sido exatamente assim, mas um pseudo-mágico de circo mambembe me explicou certas premiações.
          “A urna semanal para sorteio das cartas era um comprido cilindro de vidro?”
          “Era...”
          Explicação fácil. Envelopes colados na parede da urna com um mínimo de durex. Cores combinadas a fim de não haver engano, tipo envelope vermelho e caneta de tinta prateada ou envelope amarelo e caneta roxa... Auditório vê a urna girando, mas não percebe nada, a mão do artista indo certinho no envelope a ser “sorteado”. Ahn...
          E numa festa familiar (antes EU nem tivesse ido!), levei sobrinhada miúda, aniversário infantil com tortas de pêssego e muitos docinhos de ameixa preta, a loura me foi apresentada como neta da primeira sorteada, filha da segunda e sobrinha da terceira.
          Quem disse que toda loura é burra?!...


               F   I   M








Biografia:
PARVUS IN MUNDUS EST. (O MUNDO É PEQUENO DENTRO DE UM LIVRO) Ser dedicado, paciente, ousado, crítico, desafiador e sobretudo enlighned são adjetivos de um homem cosmopolita que gostaria de viver mais duzentos, ou quem sabe trezentos anos para continuar aprendendo e ensinando. Muitos de nós acreditam que uma vida de setenta, oitenta anos é muito longa, contudo refuto esse pensamento, pois estas pessoas não sabem do que estão falando. Sempre é tempo de aprender, esquadrinhar opiniões, defender, contestar ou apoiar teses, seguir uma corrente filosófica (no meu caso, a corrente kantiana), não necessariamente crer num ser superior, mas admirar e respeitar quem acredita nele. Entender a diversidade de costumes e culturas denominados de forma polissêmica nas diferentes partes do mundo, falar um ou dois idiomas, se perguntar o porquê e tentar encontrar respostas para as guerras, a segregação racial, as diferenças étnicas, o fanatismo religioso, o avanço tecnológico, o entendimento político. Enfim, apenas estes temas já levaria uma vida para se ter uma compreensão média. A leitura é o oráculo para estas informações, é ela que torna o mundo cada vez menor capaz de se acomodar nas páginas de um livro. É por isso que se diz que não há fronteiras para quem lê. Atualmente as pessoas confundem Balzac com anti-inflamatório, Borges com azeite, Camilo Castelo Branco com rodovia estadual, Lima Barreto com laranja de determinado município paulista, Aristóteles com marca de carro e por aí vai. Embora, eu tenha dissertado sobre o conhecimento culto, os meus trabalhos publicados aqui demonstram o dia a dia das pessoas comuns narrados através de divertidas e curiosas estórias. Meu público alvo são as mulheres. É para elas que escrevo, pois são elas possuidoras de sensibilidade capaz de entender o conteúdo do meu trabalho.
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