O paulistano é engraçado
Ou está com pressa
Ou está atrasado
Está com pressa porque a vida corre muito
E ele não quer ficar para trás
Não quer deixar a vida passar por ele antes que ele possa correr mais
Corre porque deixou muita coisa no ar
Muita coisa pra falar
Muita gente pra amar
Está atrasado pra chegar em casa
Pra chegar no bar
Pra ir pro rolê
Pra ir trabalhar
Está atrasado porque quer tudo ao mesmo tempo agora
Porque parar pra sonhar pode levar horas
Então sonha enquanto corre, caminha e chora
O paulistano é engraçado
Vive com a cabeça no tempo
Mas também esquece o relógio
É um tal de vai pra lá
Vem pra cá
Que as vezes para no meio do caminho
Atrasado, sempre
E olha pra cima, vê o por do sol
Contempla por um tempo e pensa: vou me atrasar
O paulistano é até engraçado
Mas reclama
Reclama do cinza, reclama da chuva
Reclama do sol, reclama do asfalto
Reclama da árvore que caiu em seu carro
Reclama das manifestações que o fazem atrasar mais
Reclama do metrô
Reclama porque falta amor
Reclama, mas também ama
Ama os cemitérios que parecem obras de arte
Ama os museus e as praças
Ama seus teatros e seus helicópteros
Ama seus parques e por que não, os shoppings centers
Ama seus cinemas e suas histórias
Ama até o trânsito que faz as luzes piscarem, todas de uma só cor, num ritmo lento
Ama suas baladas
Ama o pôr do sol laranja
Ama também a chuva que as vezes esquece de cair, ou de parar
Ama (e reclama) do tempo
Ama até sua periferia
Ama até o centro
Ama até os desconhecidos que passam com suas caras fechadas, sempre atrasados
Ama porque eles tem a cara de São Paulo
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