Envelheceu o tempo... Horas que morreram
No presente, dormindo no colo do passado,
Horas em que meus lábios ferveram
Nas chamas do teu beijo cálido.
Horas em que a flor da felicidade
No meu peito se abria, espraindo seu olor,
E tu vinhas com a alma tonta de veracidade
E dele sorvia o néctar do meu amor.
Sobre minhas mãos estremecidas
Deitavas as tuas, véus de neve,
E me dizias sorridente: “Nunca olvidas
Do nosso amor, mas por toda vida o leve.”
Nunca me esqueci disso que disses...
Murmuro em mim: “Não esquecerei!”
Como se assim me ouvisses
Com os ouvidos vendados pela distância que tracei.
Como se o luar dos teus olhos
Prateasse a rosa rubra da minha alma,
E eu caminhasse pelos caminhos de abrolhos
Que tua luz casta a mim espalma.
Mas não... Não há forças em mim...
Debruçado sonho no leito do langor,
De descerrar a corola de teus lábios de carmim
Como fiz em nosso áureo ensejo de fulgor.
Como se a vida habitasse
Em mim ainda,
Como se para viver verdadeiramente
Não necessitasse tua vinda.
E o tempo terminal
Não aguardasse,
Pelo despontar do teu olhar,
Da tua face.
Só então eu me ergueria
Do leito do langor,
E minha felicidade volveria
Em seu áureo esplendor.
Mas não te vejo, as luzes
Que tens na alma, não são
Visíveis ao meu olhar humano... Mas as cruzes
Da saudade as levo no coração.
Levo pelo calvário da tua ausência
Meus lábios sangrando,
Meu olhar perdido pela tua transparência
Minhas mãos teu incenso tateando.
E nessa minha vida morta
Que com teu olhar a volta pressinto,
Busco sentir-te pela minha pele absorta
Em tua chama... e te sinto...
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