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O intercâmbio
Cristiano Rufino

Nuvens em cor de chumbo encobriam a cidade. Nunca esquecerei daquele dia, uma nave espacial ficou pairando sobre a Avenida Rio Branco durante uns 10 minutos e então desceu. Como de costume eu estava atrasado pra chegar ao trabalho e aquela nave dificultou ainda mais as coisas. O trânsito era um caos, as pessoas em estado de choque, afinal que merda estava acontecendo? Resolvi descer do ônibus pra checar a situação mais de perto, não pude acreditar no que meus olhos viam. Um E.T fora cuspido da nave. La estava ele, todo posudo, o primeiro E.T que vi na minha vida, era 2013 e eu tinha 20 anos.
A população de queixo caído observava atônica aquela estranha criatura a sua frente. Ele tinha um simpático par de antenas, pele esverdeada (num tom escuro), era baixinho e de resto a coisa era bem semelhante a um humano, em termos físicos. O governador da capital carioca foi o incumbido de averiguar a cena. Alguém dizia “Olha só, esse alien ta querendo falar com algum representante da raça humana”. Agora como essa pessoa conseguiu descobrir isso era uma pergunta que você poderia ficar se fazendo durante toda uma vida. Pois bem, o Sérgio Cabral chegou até a porta da nave, o alienígena estava la em frente a essa porta e a nave continuava parada em meio a Rio branco. Obviamente os veículos de comunicação estavam feitos pintos no lixo, até helicóptero sobrevoava a região. Bom, a única coisa de que me recordo sobre o diálogo deles era que o alien nos propôs um acordo, na verdade um intercâmbio. Esse intercâmbio logicamente não é do tipo em que você deve estar imaginando, claro que um E.T não viajaria anos-luz pra dizer que deseja mandar um guri do Haiti intercambiar com um moleque argentino. É o seguinte, um terráqueo iria para o planeta deles, e um deles viria ao nosso. De início desconfiei um pouco. Muita caridade. Com certeza isso beneficiaria mais a nossa raça do que a deles, enfim, isso é o que a minha corrompida mente humana pensa, talvez com eles seja diferente. Foram abertas inscrições para tal intercâmbio, lembro-me que não quis me inscrever. Milhares de pessoas cadastraram-se no site da ONU, apenas uma seria escolhida. Passaram-se alguns meses e eles decidiram quem seria o(a) felizardo(a) (?) que iria meter o pé daqui. Um garoto foi escolhido. Marcelo o nome dele. Marcelo era órfão de pai e mãe, e morava com a avó já muito idosa, não tinha muito a perder. Lembro que a NASA veio ao Brasil (ou a filial dela sei la) e foi até a casa do rapaz. Buscaram ele e começaram-se os testes. A preparação foi árdua, mas com as dicas extraterrestres ficou mais fácil. Ele treinava dia e noite, roupas especiais, oxigênio, gravidade alterada e os caralhos. Chegou então o dia do adeus, esse dia foi feriado nacional. O feriado se chamou “Dia do adeus”, triste né?

Naquele mesmo dia uma nova nave pousou sobre a Terra, dessa vez em algum lugar la de São Paulo, acho que foi em Campos do Jordão, região serrana. Oficiais foram até o local. Houve um forte impacto, a nave estava bastante avariada e dentro tinha apenas um cadáver, um cadáver de alien. Para a nossa sorte a nave terráquea conseguiu chegar sã e salva em território alienígena. O planeta deles fica a bucetões anos-luz daqui, algum tipo de buraco de minhoca, isso ai, lembro-me da minhoca, eles conseguiam viajar mais rápido do que a luz e tinham conhecimento dos buracos de minhoca (e negros). Pra quem não sabe buraco de minhoca é um desdobramento no espaço-tempo, quando você entra num desses buracos você sai em algum lugar distante, queria que tivesse um desses aqui perto de casa. Voltando ao que interessa, realmente o alien que veio intercambiar conosco morreu na aterrissagem, então você percebe que nos fudemos mais uma vez. Durante anos o nosso rapaz ficou la fora, o planeta deles fica perto de Plutão o planeta anão (hahahahahaha, desculpe). Não consigo me recordar o nome, algo tipo Pixon, Tixon, Nexon, alguma coisa assim. Todos os meses eram nos enviadas notícias, ele estava se dando bem por la. Bem, agora estamos no ano de 2033, o cara ainda continuava por aquelas bandas, fazendo o que é que ninguém sabia, há 5 anos o contato havia sido perdido e nada dos aliens darem as caras. Os humanos são muito burros mesmo, fizeram contato com aliens e ainda não haviam tirado nenhum proveito, eles só sabem tirar proveito de si mesmos, raça estúpida. Na manhã de um domingo tedioso no ano de 2034, levantei pra mijar e escutei um estrondo la fora. Naves alienígenas. Naves alienígenas estavam disparando raios laser na gente, casas eram destruídas, fogo nas ruas, arvores caindo aos pedaços “Madeiiiira”, a população em completo frisson, merdas acontecendo. Liguei a tv e comecei a ver toda aquela parada. Toda aquela parada estava ao meu lado, voando por cima do meu prédio, eles tinham uma nave bacana. A reporte dizia que o nosso ilustre Marcelo tinha se tornado uma espécie de tirano la no planeta deles, e que isso não era concebível, eles queriam vingança. Não era só no Brasil que a porra tava séria, era no mundo inteiro. Eles exigiam que o sujeito voltasse pra cá, ele tava fazendo muita cáca no planeta deles, mas como é que seres humanos conseguiriam repatriar um terráqueo? A situação era complicadíssima. Ano 2045, a raça humana virou escrava da raça alienígena e pouco se sabia do Marcelo. Estava triste, o planeta que já era depredado estava ainda mais opaco, humanos perambulando mais mortos-vivos do que nunca. Não havia leis, nem trabalho, nem colégios. nem farmácias, nem hospitais, nem banheiros públicos nem porra nenhuma, os aliens aprenderam direitinho. Eu virei um mendigo, e vivia fugindo do governo alien, vida underground. Como eu ainda estava vivo era um milagre. Ano 2050, Marcelo retorna. Poucos reconheciam aquela figura, ele não parecia ser mais um humano, era um deles.

Então com o retorno de Marcelo nós passamos a sermos escravizados por aliens e humano. Ano 2052, uma resistência começou a surgir “Vem pra rua!” era o slogan. Eu já tava velho e fraco mas resolvi fazer algo útil na minha vida, foi a primeira coisa útil que fiz na minha vida, e também a última coisa útil que fiz na minha vida. Aderi ao grupo. Nosso plano era matar os alienígenas e aquele terráqueo filho da puta, isso ai irmão, a gente ia matar eles. E fomos la, eu um velho ridículo junto a uns jovens mendigos, queda de governo isso tinha que acontecer. Um comício foi realizado no dia 26 de saxereiro (um novo mês criado) na cidade de Sírius (uma nova cidade) ainda era ano 2052. O imperador dos dois mundos, Marcelo, o verme estava em vestes imperiais falando algumas asneiras naquele comício, ele não era muito diferente dos políticos de quando eu era garoto, isso la em 2013. A operação seria perigosa e complicada, estávamos de tocaia esperando o momento certo para atirarmos um dardo de luz na testa do safado. Dardo de luz era um dardo, só que de luz. Ele estava sendo escoltado por diversos aliens, continuava a ser escoltado por diversos aliens, até que…

- Tomus ygnius exon sacispus reciprucois. – foi o que disse o alien.
Traduzindo isso para a terraquês teremos algo tipo: “Jesus Maria José, mataram o Marcelo!” E foi assim que o Marcelo morreu. Aliens choravam por todos os cantos. Com o imperador morto tudo ficou muito fragilizado invadimos o governo. Ano 2060, eu me tornei imperador e os aliens se mandaram daqui. Construí um novo mundo, sem governo, sem escola, sem dinheiro, sem sociedade. Os habitantes do meu planeta são completamente autônomos e realmente livres, cada um faz o que quer e a consequência é um mero detalhe. Usamos engenharia reversa, a tecnologia alien agora nos pertence, mas não veja-me como um ditador, sou apenas um velho com um novo mundo. Agora o planeta Terra se chama: “Terra 2.0″.


Biografia:
Apenas um garoto com alguns escritos malucos.
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