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O diabo é amigo do meu vizinho
Cristiano Rufino



Eu não queria sair debaixo das cobertas. Tava muito frio naquela sexta e chovia la fora. Eu tinha de ir trabalhar. Conjuguei o verbo no tempo certo, eu TINHA de ir trabalhar. Então se eu TINHA de ir trabalhar eu não precisava necessariamente de TER de ir trabalhar. Só me levantei pra ir ao hospital descolar um atestado. Afinal de contas eu precisaria poupar a minha mente e a cara do chefe. Cheguei no Paster (ali no engenho de dentro) e fiquei esperando minha vez sentado num banco confortável assistindo Ana Maria Braga.

- Senhor Cristiano Rufino - uma voz feminina disse.
Me levantei e fui onde a voz ecoava.
- O senhor é o Cristiano Rufino?
- Tenho certeza.

Fomos até uma pequena saleta, e eu disse que estava com crise de sinusite e ela me passou um atestado abonando três dias.
Peguei o atestado e vazei. Na volta resolvi comprar umas latinhas e um hot pocket num mercadinho perto de casa. Na fila do caixa encontro com o Ed. Edson Oliveira Monteira o nome dele. Um sujeito maneiro que se mudou recentemente pro apartamento debaixo ao meu.

- Coé Cris! Tranquilidade meu chapa? - disse o Ed
- Tudo bem.
- Vai ter um happy hour la em casa hoje. Aparece lá!
- Maneiro. Levo alguma coisa?
- Essas latas de cerveja ai são o suficiente. - disse ele apontando para as minhas sete latas de skol.
- Ok.

O Ed é o típico coroa jovial. Na casa dos 40 seu cabelo é grisalho curto, frequenta academias, vai a praia mesmo em dias nublados, só anda de camiseta bermuda e chinelos. Boa praça. Bom, fiquei de pernas pro ar o dia inteiro. Fiz absolutamente nada, apenas comendo, peidando e dormindo. Por volta das 18:00 comecei a escutar um som rolando no Ap de baixo. Ap do Ed. Resolvi dar um confere. Enquanto descia as escadas (meu prédio não tem elevador) lembro-me de ter esquecido as cervejas. Subo de novo, pego as cervejas e toco na campainha do Ed.

- Pode entrar! - alguém disse.

Entrei com a sacola de cervejas na mão e a primeira coisa que aparece é um bêbado fuçando a sacola. Peguei uma lata e despachei o maluco. Ed veio até mim.

- Grande Cris! Não podemos fazer festa sem ti meu chapa! Você vai ensinar a todos esses putos como se bebe de verdade!

O Ed me conheceu num dia em que eu tinha tomado um porre de vinho. Tomei duas garrafas de vinho tinto comendo pão de queijo dormido. Ele me viu vomitando na lixeira do prédio e por algum motivo desde então ele me considera um cara maneiro.

- Valeu Ed vamos detonar essa porra! - disse eu erguendo uma lata como se fosse uma corneta.

Várias mulheres, vários homens, uns aperitivos dali, outros daqui, som legal rolando, tava legal. Quando eu abro minha primeira latinha vem o Ed (com bafo de álcool) e me diz bem colado ao ouvido:

- Escuta Cris. Temos um convidado ilustre hoje.
- A quem devo a honra?
- É o diabo.
Dei uma leve gargalhada e disse:
- Ta ok Ed agora deixa eu tomar minha skol.
"Catsu" - barulhinho da lata abrindo.
- Olha ele ali Cris. Ele tá tomando skol também.

Olhei pro lado e vi o sujeito. Não pude acreditar. Era ele mesmo. O todo poderoso capeta. Sim amigos la estava ele, todo pimposo com seus chifres brotando da testa, sua pele avermelhada num tom de fogo e aqueles olhos sem pupila. Ele tava curtindo. Resolvi sentar ao seu lado.

- Quer dizer então que você é o capeta?
- Capeta, Lúcifer, Satã, Diabo, Sete pele, Coisa ruim, Padre Marcelo Rossi, tanto faz.
- Posso te chamar de capeta?
Ele toma um trago e diz:
- A vontade.

Ficamos ali conversando durante um bom tempo. Temas variados. Desde política a big brother brasil. Ele sabia das coisas.

- Afim de um bagulho? - disse o capeta enquanto preparava um baseado.
- Tudo bem.
Ele me preparou um baseado fininho. Obra de mestre.
- Deixa um teco pra mim. - disse ele.
Dei uns 5 charros e passei pro cara.

Perguntei a ele se conhecia todas aquelas pessoas que estavam ali. Ele me disse que todos aqueles eram seus fiéis. Todos o que la estavam fizeram um pacto com o sujeito, inclusive Ed. Eu era o único daquela patota que não tinha pacto com o capeta. Todo mundo sabe que um pacto com o capeta rende mais malefícios do que benefícios. Mas aquela gente ali não tava nem ai. Eu também não. Ergui minha lata e tomei outra.

- Várias gostosas aqui hein. - disse eu.
- Pode crer. - disse o capeta.
- Você deve comer todas as suas fiéis né?
- A gente sempre come né cara.
- Tu me indica alguma?

Ele apontou pro lado e eu vi uma mina realmente gostosa.

- Já comi ela. - disse ele enquanto enrolava outro fumo. - Uma foda maravilhosa.

Levantei com a intenção de chegar nela. Mas meu estômago tava na merda. Acho que bebi demais. Em vez de ir na garota fui ao banheiro. Vomitei tudo na pia do Ed. Ficou tudo tingindo numa coloração estranha. Eu tava chapado e doente. Quando resolvi meter o pé, dou de cara com essa tal gostosa no corredor, na minha frente. Deus! Ela me olhava com uma cara de tesão fodido. Nem precisei me esforçar e o final vocês já sabem. Cama. Fiz um sexo muito do bom com aquela garota. O capeta tinha razão. Que foda! Enfim, limpo a porra do meu pau, coloco minha roupa e vou em direção a porta. Pra mim já dava, não aguento ficar muito tempo numa festa. É gente demais e você tem de ficar por muito tempo fingindo ser simpático, ou pelo menos aparentando ser, e eu não to nem afim de falar sobre essa merda. Pois bem, quando coloco minha mão na maçaneta aquela voz do inferno me diz:

- Aonde você pensa que vai?
Dei um sorriso constrangido e disse apertando a mão do capeta.
- Po. Desculpa meu camarada, já tava indo embora sem dar tchau! (eu costumo fazer isso, se despedir em festa pra mim é uma das piores coisas do mundo)
- Cris. Seguinte. Assina isso aqui. - sua voz não soou nada amigável.

Ele fez surgir um contrato como num passe de mágica. Li aquela porra e dizia que eu Cristiano Corrêa Rufino deveria me entregar ao senhor. Tava parecendo até papo de evangélico.

- Porra cara não é por nada mas eu não sou adepto a nenhuma dessas merdas. - disse enquanto abria a porta. Ele colocou suas mãos nas minhas.
- Amigo. É pro seu bem. Você não vai sair daqui sem antes fazer este pacto.
- Mas porque cara? Tava tudo numa boa?
O Ed e todos os outros convidados estavam chapados demais para reparar na cena.
- Você copulou com uma de minhas ovelhas do rebanho infernal. Quando alguém faz ato carnal com um de meus filhos, esse alguém tem de se tornar meu filho também!
- Corta essa você ta parecendo Jesus cara!

Ele ficou muito puto e aplicou um cruzado de direita quase quebrando o meu queixo. Caí duro.

- O seu merdinha assina logo isso é melhor pra ti! - disse ele enquanto fazia surgir uma caneta para eu assinar.
Ele jogou a porra da caneta em mim e eu levantei com a porra da caneta e disse:
- Olha aqui seu filho da puta você não sabe com quem está lidando eu...
O capeta me interrompe dando um chute na minha canela. Doeu pra caralho e eu fiquei sem reação. O desgraçado continuou a me forçar a assinar aquela droga então eu disse.
- Ta ok. Eu assino!
Quando ele entregou o contrato eu simplesmente enfiei a caneta no olho dele. O capeta ficou revoltado demais e fez surgir um portal. Portal para o inferno.
- Seu maldito agora não vai ter contrato porra nenhuma você vai é direto pro inferno!

O portal sugava tudo, cadeiras, mesas, toalhas, garfos, facas. Todo o apartamento do Ed tava sendo sugado rumo ao inferno. Nessa altura até o mais pirado dos chapados prestava atenção naquela cena. Estava acontecendo uma merda muito grande. Uma merda daquelas que demora toda uma geração para acontecer novamente. Eu corri pra maçaneta da porta e fiquei ali segurando com as minhas duas mãos, com toda a minha força. Tava foda, o portal tinha uma força centrífuga impressionante, eu não aguentaria por muito tempo. Alguns fiéis foram sugados pro inferno. Alguns não, vários fiéis. E o diabo não tava nem ai, ele queria mesmo era ver eu me fodendo. Não sei onde o Ed estava naquela hora, só sei que não vi ele sendo sugado. Estava foda pra caralho, minhas mãos estavam escorregando lentamente da maçaneta. Chegou um momento em que não deu mais pra suportar.

Minhas soltaram-se por completo da maçaneta. La estava eu, um imbecil apenas com passagem de ida para o inferno. MAS. O impossível aconteceu. Eu estava la voando pelo apertamento feito um saco de bosta e estava indo na direção do capeta! Sim eu estava indo na direção daquele desgraçado. Eu não ia me render assim tão fácil. Eu levaria aquele desgraçado junto a mim rumo ao inferno! Pois bem, fui na direção dele e o maldito não conseguiu desviar! Foi muito rápido, fração de segundos. Bati "mais rápido do que a luz" com minha carcaça no capeta. Ele foi esgurmitado de volta para o inferno. Ele voltou para onde nunca deveria ter saído. E quando ele passou para o outro lado do portal, o portal aqui da Terra se fechou! Fui salvo. Eu venci o capeta. Eu estava estupefato no chão, olhei pro lado e vi o Ed com alguns poucos fiéis. Todos em estado de choque pela merda que acabara de acontecer. Agi por instinto. Levantei e saí correndo pela porta dos fundos. Corri as escadas até meu Ap. Sentei no sofá, podia sentir meu coração palpitando. Parecia que ia romper o meu peito. Fui a cozinha, tomei um gole d'água e fui ao quarto. Fiquei deitado na cama durante um bom tempo pensando naquela merda toda. Por fim adormeci.

O Ed parou de falar comigo.


Biografia:
Apenas um garoto com alguns escritos malucos.
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