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Suicídio na biblioteca
Cristiano Rufino

Ele entrou na biblioteca completamente bêbado. Ninguém, ou quase ninguém reparou, naquele velho barbudo, que apesar do rosto feio e ridículo, trajava veste sociais da mais fina categoria. Então, adentrou ao recinto e disse:

- Olha aqui, quero ler algum livro bom.
- Ok senhor - disse a recepcionista, - me dê seu RG e faremos um cadastro.
- Não trouxe, vou lhe dizer os números.

Aí disse qualquer coisa, e a recepcionista pode perceber o aroma de álcool seco exalando de suas entranhas.

- Toma aí.
Entregou-lhe um crachá anexo a uma chave. Indicava número 104. Ele já tinha ido ali antes, na biblioteca nacional, centro da capital carioca. Nem passou no armário, pois não levava consigo nenhum pertence. Em frente ao banheiro tinha um bebedouro, tomou um golão e sentiu vontade de mijar, passou no mictório antes de ir ao salão. Chegando lá, deu de cara com a bibliotecária. Mal conseguiu falar, balbuciou mais ou menos:

- Queridinha, me da um livro bom aí.

Ela nem se impressionou, mas bibliotecária é assim mesmo, afinal de contas 7 entre cada dez pessoas que vão em bibliotecas são loucas. Então ela entregou um papelzinho pro cara escrever o nome e endereço. Depois deu-lhe outra plaquinha numerada indicando qual mesa sentar-se. Nº 24.

- Ta me gozando! Não sou bicha.
- Senhor, fale baixo, todos querem silencio.

Tratou de procurar a mesa 24. Demorou um pouquinho e meio cambaleando conseguiu achar a tal mesa. Sentou-se num barulho desgraçado fazendo todos olharem em sua direção num gesto de reprovação.

- Que foi! - gritou. - O que vocês tão olhando porra?
Aí chegou o tal livro bom. Entregaram-lhe alguma coisa de Paulo Coelho.
- Porra eu não quero essa merda!

E atirou o livro longe. Todos olharam, incrédulos e a bibliotecária tratou de chamar os seguranças e o velho bêbado em vestes sociais tratou de meter o pé dali correndo, e o livro do Paulo Coelho continuou jogado ao chão, junto a poeira das solas de sapatos de loucos impregnados em tudo quanto é parte daquela biblioteca. Foi correndo até o banheiro, deu mais um mijão e despiu-se por completo. Ficou peladão no banheiro. "Puxa, os seguranças vão mandar me prender, atentado ao pudor? foda-se" - pensou. Deu então uma louca vontade de quebrar uma bronha ali mesmo. Mas cadê inspiração? Nem todos controlam a arte da punheta mental (eu controlo). A todas essas meteu o pé do banheiro, e foi peladão até a recepção. Todo mundo olhava as pelancas do velho bêbado saltarem por cima da mesa da recepção indo de encontro a pobre garota que ali estava. Deu-lhe uma gravata imobilizando-a.

- Solte-me seu velho maldito!
- Fica quietinha baby, vamos brincar um pouquinho.
E os seguranças apareceram.
- Larga a moça! - berrou um deles. - você não quer ir em cana de bobeira, a garota não tem nada com isso.
Aí ergueu sua áspera língua e lambeu o rosto da garota.
- Que nojo! me larga seu velho!

E ela se debatia e os seguranças apenas fitavam tudo, atônitos. Não podiam fazer nada, enquanto aplicava a gravata o bêbado ameaçava perfurar a garganta da garota com uma tesoura encontrada por ali.

- Seguinte, se vocês tentarem algo - berrava ele. - eu trato de fazer jorrar groselha desse pescocinho!

E deu uma lenta e áspera lambida naquele pescocinho. A garota chorava. E o velho pelado continuou nisso por um bom tempo. Então, tava ficando morno, tratou de rasgar bruscamente as vestes da moça. Todos muito putos, mas ele era forte e ela não conseguia nem lhe fazer cosquinhas, e ninguém queria ver uma tesoura perfurando um pescoço. A garota ficou completamente nua e tratou de bolina-la na frente de todos. Ela chorava e ele não parava. Então, algum segurança meteu o pé de la, foi até o orelhão mais próximo, chamou a polícia.

- Precisamos de um carro patrulha aqui na biblioteca nacional. - disse ele. - Tem um velho maluco tocando o terror, possibilidade de homicídio, e precisamos de um bom atirador.

Aí demorou meia hora e a viatura apareceu por la. Tudo cercado, os arredores da biblioteca ficaram completamente interditados. Vários repórteres apareceram como abutres no local, e o velho nessa altura estava com a garota em cima do balcão chupando ela toda.

- Ei! - gritou um dos seguranças. - que tal um acordo?
O velho nada disse. O segurança prosseguiu.
- Tu solta a garota e nós lhe pagaremos 5000,00. Que tal?

O coroa ficou pensativo por um instante, então tirou sua boca fétida dos peitinhos da pobre garota e tratou de aderir ao acordo. Jogaram um pano para a garota poder cobrir-se, mas ele não largava a tesoura. Então o segurança chegou mais perto.
- Seu puto! Acha que sou bobo? De um passo pra trás ou o sangue espirrará nessa tua cara de merda!
O segurança obedeceu.
- Colega, só não faça nada com essa pobre moça...
- Eu que dito as regras aqui porra!
- Calma senhor, - prosseguiu, - apenas fique calmo.
- Já falei pra tu fechar essa boca seu guardinha de merda!
- Ta ok, ok...
- Fecha a boca porra!
- Senhor fique calmo, senhor por favor.
- Caralho sai daqui!
- Senhor eu só quero...

E o pior aconteceu. Um grito alto seguido de um terrível ato de perfuração. O sangue descia da jugular da garota, que permanecia deitada no balcão encharcando todo aquele pano com seu sangue. As pessoas ali presentes ficaram revoltadas. Mas a garota poderia perder o pouco de vida que ainda lhe restava se alguém decidisse fazer algo estúpido. O segurança levou as mãos a cabeça e o velho gritou:

- Vocês estão assustados com o quê? Só porque eu sou bêbado!? Eu acabei de fazer uma maldita entrevista de emprego porra! Sou igual a vocês seus merdas!

Os olhos das pessoas recusavam-se a acreditar na cena, novamente o velho ergueu a tesoura. Então, a ponta quase sendo tocada novamente naquele pobre pescoço, foi nesse exato momento que o velho simplesmente caiu. Isso aí, o cara caiu duro no chão com a tesoura na mão. Os seguranças foram correndo retirar a garota do local, levaram ela pro hospital mais próximo. E o desgraçado do velho ficou ali no chão, sem demonstrar nenhum sinal de vida, e a tesoura curiosamente perfurou seu peito esquerdo durante a queda.

- Verifiquem esse filho da puta! - berrou um dos seguranças.

Alguém com ciência em medicina chegou ali, o velho tava morto. Então isso virou noticia mundial e a biblioteca ficou interditada por uns tempos, e o ilustre atirador da PM carioca nem apareceu por la. Mas já voltou a funcionar, inclusive passei por la esses dias. E a garota continua em recuperação, e o velho não foi morto pela tesourada, e sim por ataque cardíaco, pelo menos foi isso que disseram nos jornais da época. Mas pra mim, isso não deixa de ser um tipo de suicídio, afinal de contas o próprio morto que forçou isso tudo. Então fica decretado SUICÍDIO. E não sei qual era o livro do Paulo Coelho jogado a traças, e nem quero saber, provavelmente alguma auto-ajuda que o tal cretino recusou. E isso tudo pois a biblioteca nacional não aluga livros. Se o bêbado tivesse levado essa porra pra casa PROVAVELMENTE nada disso aconteceria. Então coloquem a culpa na biblioteca nacional, merda. Todos precisam de ajuda, as pessoas sofrem, estamos todos perdidos no mesmo balde de merda, e continuaremos aprisionados por séculos e séculos, mas as vezes uma palavrinha amiga realmente levanta o nêgo. Os livros de auto-ajuda são a chave pra isso tudo? Não sei, nunca cheguei a ler, mas quem realmente precisa de ajuda não conseguirá ajuda em nenhum livro, em nenhuma pessoa, em nenhuma biblioteca, pois a ajuda brota de si mesmo. Como uma flor que nasce dentre o cimento, só você pode salvar-se. Você é o seu único vilão e seu único herói, a resposta pra tudo esta no seu eu, e isso demora, mas com o tempo você aprende. Puta que pariu to falando igual o Paulo Coelho. Então vou ficar rico e morar em Paris! Deus seja louvado.


Biografia:
Apenas um garoto com alguns escritos malucos.
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