Ela é uma boa companheira, não se esquece de ninguém, não liga para como você é, não te diz o que fazer, não te diz o que não fazer. Alguns a conhecem mais rápido, outros não, e outros resistem ao seu charme. Mesmo assim ainda há aqueles que a temem. Já ouvi dizer que ela toca violino, já ouvi dizer que ela é cruel e sem sentimentos. Eu acho que ela toca flauta, feita com restos de pessoas que jazem sob o solo. Não, eu não acho isso...
Antes do pequenino nascer, disse a Morte:
"Olá, seremos grandes amigos algum dia. Eu estarei sempre ao seu lado, mesmo que você não me veja e sempre que você não suportar mais as dores e temores de seu mundo, eu vou te carregar. Eu prometo."
E assim, sem conhecer o fato, o menino faz sua primeira e melhor amiga.
Com a radiação do parto, a morte é banida de volta para seu lar e a jovem criatura tem seus primeiros momentos de autonomia: o cordão umbilical é cortado. Chorava...
Foi um dia alegre esse, que já se passou há algum tempo. Hoje já não lembra mais nem desse dia, nem de sua amiga.
Agora é um garoto crescido, pré-adolescente, com seus sonhos e com suas dificuldades. Era tão associal que não tinha amigos, ninguém gostava dele porque ele tinha desejos e gostos diferentes de todo o resto, era realmente um estranho no corpo padronizado.
Certa vez a Morte o parou na rua deserta, quando voltava da escola, e perguntou se ainda se lembrava de sua velha amiga:
- Como vais, meu caro amigo, lembra-se de mim?
- Você só pode estar de brincadeira, - disse o garoto - eu não tenho amigo algum e não me lembro de você.
- Fui tua primeira e única amiga neste caminho todo que passaste. Havia prometido que estaria sempre ao seu lado e, quando você não tolerar mais esse sofrimento que chamam de vida, haverei de pegar-te. - Explicou a morte
- Então me leve para seu mundo.
E a morte levou-o para o mundo perfeito, para o sono eterno, para onde a confiança consegue ser absoluta.
E ninguém notou que ele havia morrido.
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