Se já escrevi sobre a enfermidade de meus olhos falta-me dissertar sobre o meu tato. Minha pele.
Que diz minha pele? Parece tão saudável, diferentemente dos olhos. Mas não te enganes, leitor, este tecido é tão eloquente quanto a serpente. Ela me diz a verdade?
Se a faço a pergunta, ela afirma, veemente. Como pode alguém não confiar naquilo que sente? Como pode, mas que tipo de louco, alucinado, mórbido é este quem escreve? Sou eu. Que duvido de meu próprio revestimento, que insiste em mentir para mim e para o mundo. Ora, e se mente para o mundo também engana a outros ornamentos da verdade. Que assim, enganam a outros e a outros, numa progressão geométrica, a fim de manter seguro o seu dono. Pois essa é sua função, proteger. Daí podemos perceber sua enfermidade, pois se protege a qualquer custo, ou acha, já que engana a si mesma. Não importa o resultado de suas mentiras, o importante é mentir a si mesma, a mim, e aos outros. Mentir, mentir, mentir; o mal da superfície humana.
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