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Diário de um suicida
23/07 - 02/08 - 05/08
Roberto Betini Junior

Resumo:
Leia o título.

Meu quarto, 23 de julho de 2037


Hoje é o primeiro dia no qual me trancam em minha gruta taciturna. É uma suíte agradável, já me é de costume permanecer aqui por horas a pensar na vida e na morte. Desta vez meus familiares realmente tomaram uma definitiva decisão: me enjaularam em meu próprio antro. Embora um lugar pequeno e vazio, ele me reduz a vontade de acabar com o fôlego da vida com dilúvios. De uns tempos para cá parece-me que o existir perdeu seus valores, e parece-me que isso se agravou a partir do momento em que eu me perdia horas e horas aqui, em minha cama, pensando. Agora é a única coisa que me resta! A tendência, portanto, é de, não atenuação, mas crescimento desse desejo suicida, que me deixa em conflito com o meu ego biológico, que já não quer o mesmo. O medo também não me faz prosseguir adiante. Mas medo de quê?


Meu quarto, 2 de agosto de 2037


Já faz mais de uma semana que me vejo preso em meu próprio quarto e não há sinais que me façam acreditar em que eu vá sair tão cedo daqui. Dão-me comida e bebida pela manhã, pela tarde e pela noite, mas não vejo seus rostos. Não há porque vê-los (a não ser quando me trouxeram a primeira refeição do dia em minha cama), afinal, se são tão medíocres e "faciais" como os outros. Fazem boa comida, admito, o purê de batatas de hoje estava delicioso. Também não sei quem são... Sei seus nomes, ao menos, e achava que os conhecia até os atuais tempos. Mas não, eu não tinha refletido o suficiente. Refletir! Pensar! É o que eu mais faço aqui, já que não me restam oportunidades. A falta de escolha nos move ao pensar, ou será que eu mesmo decidi abrigar esse mundo e abrir mão de todo o resto? Se nem eu mesmo sei dizer...


Meu quarto, 5 de agosto de 2037


Arrumei, com as próprias mãos marcadas pelo sangue, minha própria cama para me dar os ares de conforto. Sobre o colchão duro, uma colcha de cor branca, meu edredom azul-escuro e pesado que uso nas noites do rigoroso inverno (meu preferido), dois travesseiros deitados angelicalmente na extremidade rente a parede e uma almofada quadrática com uma indumentária parecida com a estampa do edredom encostada nos travesseiros. Ficou bonito e quente! Deitei-me sobre a cama e fiquei a olhar apenas o que me era possível enxergar, apenas hoje. Paredes claras, brancas, frias. Um carpete negro em contraste com as paredes. Um guarda-roupas arrumado brilhava com as pequenas frestas de luz que aquela janela de madeira permitia entrar e meus livros jogados ao chão e em todos os cantos. Eram de diversos temas e autores, mas já não sentia vontade de lê-los, a luz era fraca e a vontade de manter contato com alguém não me causava volúpias. Em cima da estante estava um exemplar de "O Mundo de Sofia", que costumava ler alguns trechos antes de dormir quando a vida me era menos atordoante.


Biografia:
Nasci e, naturalmente, morrerei.
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