Era uma quarta-feira, Rio de Janeiro, o estado mais violento do Brasil. Três assaltantes abordam um carro com quatro pessoas, João Hélio, a mãe, a irmã de 13 anos e uma amiga, em um cruzamento no bairro Oswaldo Cruz, subúrbio do Rio. Os bandidos deram voz de assalto, a mãe e a irmã de João Hélio foram mais rápidas e conseguiram sair do veículo a tempo, mas no momento em que os bandidos arrancaram com o carro, João ficou preso no sinto de segurança no exterior do veículo, arrastado por sete quilômetros, João Hélio não resistiu e faleceu.
O ocorrido na última quarta-feira, 07/02/2007, deflagrou uma discussão há muito necessária no Brasil, mas que, somente com a morte de mais um João, fez-se acontecer.
Provavelmente vários “Joãos” já perderam suas vidas em cruzamentos, faróis, morros, becos, etc. Porém, e talvez esta seja uma grande estratégia, somente agora o senado discutirá a maioridade penal e possíveis soluções para diminuir a violência nas grandes cidades brasileiras.
Digo estratégia, porque não se pode ser tão negligente a um problema tão grave, como nossos governantes são, pois decidem votar um projeto de lei importante quando este ocupa lugar de destaque na mídia. Há menos de um mês uma família foi queimada viva dentro de uma carro por bandidos. Ônibus são incendiados pelos marginais com tanta freqüência, que o metrô está superlotado e já apresenta problemas em São Paulo, porém, somente depois de mais um crime bárbaro que revoltou praticamente todos os brasileiros, nossos “enternados” movimentaram-se.
Todavia, mais negligentes que nossos queridos governantes somos nós. Causa espanto ler a frase acima? Pois bem, ao mesmo tempo em que atacamos qualquer e toda prática de violência, somos indiferentes a ela. A cada acontecimento bárbaro, seja seqüestro, assassinato, roubo seguido de morte, enfim, tudo o que possa sugerir violência ao ser humano, somos tomados por uma revolta que atinge apenas a emoção, mas, nunca a razão.
O silêncio “fala” mais alto que a vontade de dizer que também estamos inseguros, com medo, e continuamos fingindo que nada aconteceu.
Fechamo-nos em alarmes residenciais, carros blindados, câmeras, e esquecemos de exigir uma segurança pública eficaz, que proteja não somente a um, mas a todos os cidadãos, já que pagamos tão caro por ela.
Torna-se inevitável a presença da ética em cada um de nós. Ser éticos enquanto cidadãos, lutando pelo exercício pleno de nossos direitos e pelo cumprimento dos nossos deveres, do contrário, ficaremos à mercê da vontade dos criminosos, esperando o dia em que chegará até nós, alguém armado pedindo-nos um trocado, um importado, uma vida, uma “birita”, um erva, ou apenas dizendo, Já era.
Alex de Novais Dancini.
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