Bala-perdida? Já não está mais perdida, foi encontrada por alguém. Geralmente dizem que quem encontra uma bala-perdida estava no lugar errado e na hora errada, que nada, estava no lugar certo e na hora certa para encontrar algo que alguém perdeu.
Dia desses, andava por uma rua tranqüila do Rio de Janeiro, quando reparei uma pequena movimentação de pessoas que corriam de um lado para outro, apavoradas com o que estava acontecendo. As pessoas que corriam faziam parte de um pequeno grupo de turistas que, antes do tumulto começar, estavam maravilhados com a cidade maravilhosa.
Ao longe alguém brada!
- Ajudem-nos é um tiroteio!
Olhando para os quatro cantos reparei que aqueles que não eram turistas caminhavam lentamente, sem pressa, com calma, como se o que estava acontecendo não passava de uma normalidade. Enquanto isso, turistas corriam aqui e ali, apavorados, gritando, querendo sair daquele pequeno inferno o quanto antes.
As pessoas que andavam a passos lentos por entre o tumulto estavam cabisbaixas, vexadas, humilhadas, envergonhadas. O que se pensava era que todo esse tumulto poderia acabar a qualquer momento, mas que não tardava para outro começar, ou seja, transformou-se em uma coisa normal. Quanto ao tiroteio, difícil é saber se as balas encontram as pessoas ou as pessoas é que encontram as balas, mas, por aqui ninguém pára, pois uma dessas paradas pode ser definitiva, pode haver o encontro.
Cessa o tiroteio.
Alguns turistas chegam a sorrir, a fazer gestos como se estivessem puxando uma arma do quadril, sentiam-se no Velho Oeste. Na verdade muitos turistas já passavam a gostar da idéia de presenciar um tiroteio sem cortes, nada de câmeras como nos filmes do deserto americano, aqui, tudo é na realidade nua e crua, e o que é mais importante, não estão no deserto, pelo contrário, com pouco esforço ouve-se o quebrar das ondas na praia de Copacabana.
Já não é possível ouvir as ondas, pois o tiroteio recomeçou.
- Meu Deus, diz um dos turistas. Uma moça foi atingida no tórax.
O espanto toma conta daqueles que não são brasileiros, porém aqueles que são continuam andando a passos lentos, mas agora já indagam: a bala achou a moça ou a moça achou a bala? Não há tempo para responder.
Todos se calam diante da tragédia. Também, não há o que dizer, a bala não pode ouvir, tampouco a moça.
Mas, a pergunta ainda está sem resposta: quem encontrou quem? A moça foi ao encontro da bala ou a bala foi ao encontro da moça?
A única certeza que temos é que o encontro aconteceu.
Alex Dancini, graduando de Letras da FECILCAM
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