Na semana passada morreu Neil Armstrong. O primeiro homem a pisar o solo de outro corpo celeste. Sem dúvida foi um grande feito tecnológico. Para os americanos morreu um herói. Herói seria quem conseguisse desvendar o que se passou pela cabeça de Neil Armstrong em todos esses anos de uma reclusão voluntária.
Uma das coisas que Neil sabia, era que a marca do seu pé continua lá. Na Lua. Um corpo sabidamente morto. Como ele está agora. Eu acho que ele tinha outra certeza. Que lhe doía muito vendo o que acontecia aqui na Terra. A conquista da Lua passou longe de ser um grande passo para a Humanidade.
Talvez, Neil Armstrong tivesse morrido mais feliz como qualquer um. Esquecido. Porém, sabendo que a sua frase vingou. Muitas vezes, ele deve ter percebido que o seu feito não serviu para que a Humanidade avançasse como raça. Que nesses últimos quarenta anos, entrou em regressão acelerada.
Estamos nos deixando levar pelo fascínio da tecnologia. E com a noção de que estamos avançando a passos largos. Maiores do que o dado por Neil Armstrong. Agora a mídia anda fascinada com o “Curiosity”. Nosso brinquedinho passeando em solo marciano. Nossa! Como em 1969, logo poderemos deixar a Terra e habitar outros planetas.
Eu tinha 12 anos quando Neil Armstrong pisou na Lua. Como muitos meninos da minha geração, brinquei de chegar lá. Depois fui aprendendo que a conquista da Lua foi apenas uma batalha da “Guerra Fria”, entre russos e americanos. O que estava em jogo naquele momento era supremacia e poder. Nada mais.
Existem centenas de exemplos para mostram que a frase de Neil Armstrong foi empolgação. Enquanto dois americanos bailavam na Lua, milhares de outros americanos eram estraçalhados no Vietnã. Quase meio século depois, homens, mulheres e crianças continuam sendo estraçalhados em guerras.
No mesmo dia da morte de Neil Armstrong, assisti a um filme protagonizado por Angelina Jolie. Totalmente despida dos poderes de “Lara Croft”, Jolie era uma representante da ONU, vendo os horrores dos campos de “heróis” esfomeados da Etiópia. Ficção? Ainda bem, porque a realidade deve ser muito pior.
Enquanto brincamos de carrinho remoto em Marte, aqui na Terra ainda se morre de diarreia. Sonhando com as estrelas, estamos emporcalhando o planeta. Uma fossa orbitando o sol. Marte não passa de outra grande utopia do homem. Deveríamos aprender a pensar como raça. E conviver com uma certeza. Nunca sairemos daqui para um lugar melhor. Só temos esse lar.
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