Cachoeira disse que está se sentindo um “leproso jurídico”. Homem de poucas palavras que é, agora podemos perceber que sua vida não só NÃO é um livro aberto (nunca vi o dito popular aplicar-se tão bem), como é um livro de pura poesia. Que metáfora brilhante com que esse ex-talvez-ainda-bicheiro nos brindou!
Claro que ninguém saberá o que exatamente Carlinhos Cachoeira quis dizer com a expressão… afinal, essa é uma característica dos grandes artistas das palavras: eles nunca se explicam, deixam a tarefa aos críticos literários. Talvez ele estivesse inspirado pelo Dia do Escritor, comemorado ontem… muito culto o nosso fora-da-Lei. De qualquer forma, podemos fazer um esforço interpretativo e tentar desvendar o que passou pela cabeça desse tão ilustre modelo da corrupção brasileira, não?
Vejamos… “leproso”. A lepra é uma doença infecciosa, que degenera nervos e pele. Afeta a aparência física de modo quase irreversível, razão pela qual sofre de cruel estigma ao longo da História. Vítimas da doença foram por muito tempo marginalizados socialmente, e até a Idade Média (e ainda por algum tempo depois dela) muitos acreditavam que tratava-se de castigo divino, motivado pela conduta pecadora. No Brasil, leis foram criadas para que os leprosos fossem capturados e confinados em hospitais que mais pareciam prisões. A doença também é conhecida como Mal de Hansen ou Mal de Lázaro.
Mal de Lázaro? E quem foi Lázaro? Sim, vamos mais a fundo, pois o Boca-Fechada-não-entra-mosca merece. Lázaro, personagem bíblico, era um mendigo leproso que após a morte ganhou o reino dos céus, no maior estilo “aos pobres tudo será dado, dos ricos tudo será tomado”.
PRONTO! Com todo esse material, fica fácil entender o que Cachoeira pretendia ao comparar-se ao leproso! O pobre bicheiro sente-se segregado, anda sofrendo preconceito por causa das doenças da corrupção e da avareza… tadinho. Ao menos resta-lhe um consolo, com certeza: após a “morte” que representa essa CPI e tudo o mais, Cachoeira sabe que a ele está reservado o paraíso do esquecimento (aliás, por onde anda Marcos Valério mesmo?), e o dinheirinho que figurões da política brasileira pagarão só para que ele mantenha seu silêncio patético e aviltante, embora garantido por Lei.
Senhor Carlos Augusto Ramos, poeta que tem a vida como um livro trancado a cadeado, aí vai um apelo: Não nos faça o desfavor de comparar-se a pessoas que têm as vidas dizimadas pelo Mal de Hansen. O que você tem não é doença, meu amigo, é falta de caráter mesmo.
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