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MEDICALIZAÇÃO
Roberto Axe

Resumo:
Doutor! Doutor! Escrevi um poema! Tem cura?


-Doutor, estou apavorado!

-Calma, calma...


-Ontem... ontem... não sei como dizer... tive... tive ímpetos criativos!

-Putz! Isso não é bom! mas fique tranqüilo já existe remédio. Continue.


-Pois é... eu estava assistindo televisão, como sempre, quando determinada notícia me tocou profundamente...

-Calma lá! Como assim, “profundamente”?


-Não sei explicar. Tocou, tocou, fazer o que? Tocou. Senti alguma coisa em minha cabeça, parecia que se mexia... era uma espécie de volúpia, algo que precisava sair. Reconheço, com vergonha, que senti prazer naquilo, sei lá... parecia que tinha algo realmente se movimentando.

-Droga! Provavelmente um pensamento, continue.


-Então me levantei da poltrona, coisa que nunca faço, peguei um pedaço de papel e verti minha indignação na forma, na forma... não sei como dizer isso... na forma de um poema! Pronto falei!

-Caramba, isso não é bom, mas espero, pelo menos, que dentro de preceitos alexandrinos!


-Sei lá o que é isso, doutor! Só me expressei, e, diga-se de passagem, preenchi cinco páginas. Eu criei, doutor, criei, vê se pode! Tem cura?

-Já tem remédio, fique tranqüilo.


-Ufa! Que alívio....

-Sobre o que escreveu?


-Bem eu questionei o ...

-Você o quê?


-Questionei o ...

-Já chega, para mim está bom. Olhe, começa assim, questiona ali, questiona aqui e daqui um pouco você corre o risco de adquirir ‘pensamento crítico’, e lhe garanto, taí uma moléstia difícil de sanar. Bem, você está com sintomas de tendência criativa, está no começo dá para curar. Vou lhe receitar alguns remédios que você sempre encontrará em qualquer farmácia, mas lembre-se: a loucura começa assim, hein? E mais, nunca, em hipótese alguma leia Foucault, entendido?

-Ler quem?


-Nada, nada, deixa pra lá.

-Mas não é tudo, doutor.


-Não acredito, tem mais?

-Sim, é que...bem, como o senhor pode ver, sou um homem já em idade avançada, pois é... pasme doutor... eu... eu... eu... eu nunca broxei! e pior, minha libido tá sempre a mil! Estou muito preocupado, doutor, muito preocupado, não é normal isso na minha idade...


-Não é normal, mas não se envergonhe, já tem remédio, fique tranqüilo... já tem remédio...


Biografia:
Profissional da área de Marketing e Escritor.
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