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Sentimento de culpa
(uma crônica triste)
Geraldo de Lima

Não conseguia se perdoar. Seus erros passavam vez após vez pela sua já atormentada mente, como se fizessem parte de um filme exibido à exaustão. Parara no tempo, por assim dizer. Não conseguia fazer a vida fluir, seguir em frente, como dizem... O passado era um “fantasma” lhe assombrando continuamente e ele parecia inerte, incapaz de qualquer reação.

Achava-se indigno de ser feliz. Fugia de toda e qualquer boa oportunidade, pois sentia-se imerecedor. Seus sentimentos de culpa tornavam-no auto-destrutivo. Por mais que estivesse arrependido e por mais que já tivesse pago por seus erros, nunca acreditava ser o suficiente. Assim sendo, pensava na morte com constância. Não no sentido de tirar a própria vida, mas no sentido de fantasiar sobre como seria “bom” estar morto. Ao menos, não se encontraria mais naquele estado lastimável de auto-condenação.

Há dias não saía mais de casa. Desligara o celular, tirara o fone residencial do gancho. Não atendia nem mesmo à campainha, de modo que os vizinhos chegaram a temer pelo pior. Temores estes que desapareciam quando vez por outra ouviam o barulho relativamente alto do televisor, único “companheiro” que lhe restara. O fato é que a vida não parecia ter mais graça, sentia-se um “nada”, um zero à esquerda da esquerda; estava simplesmente vivendo por viver.

Havia feito acompanhamento psicológico por um tempo, mas cansara-se das sessões. Não percebia melhora, não tinha vontade de falar. Achou que no seu caso, era pura perda de tempo. Talvez, até mesmo tivesse piorado.

Naquela noite, olhou-se no espelho, atenta e demoradamente. Parecia mais velho. Os cabelos compridos, desgrenhados; a barba enorme, tornando-o quase que irreconhecível. Sentiu raiva daquele homem estúpido que o olhava de um modo deprimido. Culpou-o por estar daquele jeito. Num rompante de loucura, agrediu-o apenas para em seguida, lamentar-se pelo profundo corte do vidro em seu braço, outrora forte, agora fraco. Sentou-se no chão e chorou compulsivamente, não tanto pela dor física que de fato sentia, mas pelo emocional que se encontrava quebrantado. As lágrimas caíam em abundância, misturando-se ao sangue escorrendo, também de modo abundante. Foi naquele momento que um “estalo” veio à sua mente: não fazia mais sentido continuar daquele jeito.


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