A aranha tece o fio e a teia
No compasso silencioso do passar do tempo.
O fio quase invisível é prova física
Da existência do tempo.
Entre um e outro fio de sua teia
Brota este pensamento:
-Será que a aranha tece o fio
Como o coração tece o sentimento?
-Será que a trama desse fio
É como a trama do sofrimento?
Enquanto a aranha tece o fio,
A natureza tece o tempo...
O poeta tece vago sentimento.
Todos têm a mesma espessura,
Todos breves como o átimo
Que dá consistência ao momento...
O homem passa e não percebe o fio da vida
Na teia do tempo.
A vida passa
E não nos damos conta da tecedura do tempo.
O poeta escreve
E não se dá conta da trama invisível
Que dá vida ao pensamento.
De repente,
O poeta compreende que o verso é como o fio
Que a aranha tece,
Indiferente ao tempo.
Alheia,
A aranha tece o fio e a teia
Enquanto o dia tece seu próprio movimento.
Absorto,
O poeta tece o fio tênue por onde escorre
A química do sentimento.
Questiona-se o poeta:
-O que une tão diverso e complexo maquinário?
A intuição lhe responde com vago pensamento:
O visgo da vida... A breve existência... O frágil momento...
O eterno desejo... O fugaz contentamento.
O fato, compreende o poeta,
É que o tempo e a existência têm seus próprios movimentos...
Indiferentes à teia,
Alheios ao homem,
Impassíveis ao sofrimento.
O homem sonha e nessa frágil dimensão encontra sentido
Para a existência e bálsamo para o sofrimento.
Questiona-se o poeta:
-Mas qual será o remédio da humanidade?
Tempo,
Tempo...
Tempo.
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