Login
E-mail
Senha
|Esqueceu a senha?|

  Editora


www.komedi.com.br
tel.:(19)3234.4864
 
  Texto selecionado
APENAS UM CLIQUE
ivete tôrres

Cecília abre o envelope roxo. Dentro, um convite de casamento, roxo. Sabe quem o remeteu, mas se não soubesse, pela cor adivinharia. Sorri ao ler o nome do noivo: Maicon. Justo Marcela que detestava nomes estrangeiros aportuguesados. Implicava com Estéfanis, Jonattans, Dienifers e outros muitos. Mas, quem pode dizer o que iremos viver amanhã?

Senta vagarosamente na poltrona preferida olhando fixamente para o que tem nas mãos. Um filme começa a rodar na sua mente. Três adolescentes, inseparáveis, amigas e colegas. Marcela, gordinha, alegre, bem humorada. Cecília, magra, centrada, segura de si. E, Renata, corpo escultural, escrava da moda, um pouco insegura. São meninas bonitas. Cada uma com seu encanto. Diferentes no tipo físico, na personalidade, no estilo de vida, mas com muitas coisas em comum. Fãs incondicionáveis de cinema. Ela sorri ao lembrar que alguns amigos costumavam chamá-las de As Panteras, numa alusão ao popular seriado dos anos 80. Outros, as chamavam de As três mosqueteiras.

Estudaram juntas desde o maternal e embora tenham feito faculdades diferentes continuaram assim até poucos anos atrás, quando foram morar em outras cidades. O que não atrapalhou a amizade, pois se falam diariamente, em conferência, pela internet.

Ocupadas com suas carreiras, não priorizaram o casamento. Até Marcela conhecer o noivo. Aos trinta anos ela está pronta para formar família. O casamento será daqui a quatro meses. No verão. Cecília, de certa forma, acha pouco o tempo que terá. Afinal a melhor amiga da noiva deve estar à altura do acontecimento. E isto exige tempo.

Passam-se os dias e elas muito conversam sobre o vestido que irão usar. Combinam a cor para não correrem o risco de se transformarem em par de vasos. Embora madrinhas não querem se vestir igual. Nem mesmo parecidas. Falam também dos acessórios: bolsa, sapatos, maquiagem, etc. Mas são apenas conjecturas. Certo mesmo, apenas o vestido da noiva que pela descrição, ficará lindo. Mais ou menos como o da Princesa Diana. O que não lhe cairia nada bem se ela ainda mantivesse o corpo cheiinho da adolescência.

Numa tarde Cecília folheando a revista semanal que assina, encontra um artigo bastante interessante: Vida digital – O sucesso das compras com um clique. A internet fascina a todos que tem oportunidade de conhecê-la. Cecília não foge à regra.

O texto versa sobre sites de compras, cada vez mais populares no mundo inteiro. Ela, inclusive compra de tudo pela internet, desde xampu até geladeira, portanto este tipo de negócio já não é nenhuma novidade. Lendo mais adiante encontra o seguinte texto: “A grande novidade é o site Boutique.com recém criado pelo Google. Não é exatamente uma loja on-line, mas um endereço que reúne as maiores lojas de roupas dos Estados Unidos. O Boutique.com é rico em recursos que facilitam as compras e as tornam mais divertidas. Alguns exemplos: se o freguês informar suas cores e estilos preferidos, poderá receber sugestões de acordo com o seu gosto pessoal. Basta clicar na foto de uma celebridade para adquirir um modelo igualzinho. Inclusive vestidos usados para desfilar no tapete vermelho da cerimônia do Oscar.”

Imediatamente se interessou e entrou no tal site. Por ali brincou por muito tempo. Olhando preços, modelos, combinando sapatos. Mais curiosa ficou com o site que vendia roupas similares aos das atrizes de Hollywood. Lembrou de procurar pelo vestido usado por Marlene Dietrich na festa do Oscar de 1931. Há muitos anos as panteras viram numa revista a foto dela com o dito vestido. Este chamara a atenção do mundo pela beleza e ousadia. As costas e o colo nus povoaram o imaginário masculino. Uma mulher além e seu tempo exibindo o belo corpo, aos trinta anos de idade, num belíssimo vestido azul Royal feito em chiffon e cetim. Com altivez, desfila no tapete vermelho olhando aos outros como se fossem reles mortais. As meninas guardaram o recorte durante muitos anos, como uma espécie de modelo de mulher: moderna e de atitude.

O assunto não mais saiu de sua cabeça, mas não falou a ninguém. E como neste mundo globalizado quase tudo pode acontecer... Mandou vários e-mails e recebeu outros tantos, com informações sobre a possibilidade de trazê-lo ao Brasil. E principalmente levá-lo a um acontecimento muito importante. Os 488 dólares mais impostos pagos na Receita Federal foram o menos trabalhoso. O mais difícil foi a numeração para confecção muito diferente da nossa. Foi pedida uma foto de corpo inteiro em traje de banho e as medidas da cabeça aos pés. Vestiram-na de azul Royal e mandaram para aprovação. Achou-se linda, e deu sinal verde.

Semanas depois recebe em casa a encomenda. Veste para ter certeza de ficar bem. Ficou. Agora era esperar chegar o dia 20 de dezembro. Complicado seria guardar este segredo das outras mosqueteiras. Mas valeria a pena. As duas com certeza reconheceriam o modelo e depois do impacto explicaria tudo.

Enfim o dia fatídico. Sai do hotel quase atrasada. Corre, porque noiva pode atrasar, mas madrinha não tem esse direito. O cortejo teria um casalzinho na frente, logo atrás as madrinhas e então, a noiva. Haviam ensaiado no dia anterior. Tudo sairia perfeito. Chega a antever a surpresa de Renata quando a vir vestida de mulher fatal. Sorri satisfeita por ter tido a idéia.

Chega à igreja e vê o carro da noiva. Tenta acenar, mas o cerimonialista, quase ríspido, a coloca imediatamente ao lado da outra madrinha. Ambas se olham, sem acreditar no que estão vendo. Renata também está muito linda usando um vestido de chiffon e cetim. Ambos tão azuis Royal quanto possam ser. Não tem tempo sequer de dizer uma palavra, eis que ecoa no ar a marcha nupcial.

Todos os olhos se voltam para a noiva que surge na porta da igreja e desliza pela nave num estonteante vestido de chiffon e cetim. Branco, como deve ser. Diferente na cor, mas no modelo daquele usado com tanta propriedade pela intérprete da inesquecível Lili Marleen há oitenta anos.

Ela, Cecília, havia esquecido que o trio tem outra coisa em comum: as três mosqueteiras ou panteras gostam de estar muito bem informadas.









Biografia:
-
Número de vezes que este texto foi lido: 52832


Outros títulos do mesmo autor

Poesias ESPERA ivete tôrres
Poesias DIFERENÇAS SEMELHANTES ivete tôrres
Poesias AMARELO COM AZUL ivete tôrres
Contos APENAS UM CLIQUE ivete tôrres
Contos E POR QUE NÃO? ivete tôrres
Contos PARA TUDO DÁ-SE UM JEITO ivete tôrres
Contos MUITAS FELICIDADES, MUITOS ANOS DE VIDA ivete tôrres
Contos UMA DOR ESCONDIDA ivete tôrres
Contos COISAS DA VIDA ivete tôrres
Contos CADÊ JUÍZO QUANDO A GENTE MAIS PRECISA? ivete tôrres

Páginas: Próxima Última

Publicações de número 1 até 10 de um total de 27.


escrita@komedi.com.br © 2024
 
  Textos mais lidos
JASMIM - evandro baptista de araujo 69015 Visitas
ANOITECIMENTOS - Edmir Carvalho 57922 Visitas
Contraportada de la novela Obscuro sueño de Jesús - udonge 57559 Visitas
Camden: O Avivamento Que Mudou O Movimento Evangélico - Eliel dos santos silva 55842 Visitas
URBE - Darwin Ferraretto 55121 Visitas
Entrevista com Larissa Gomes – autora de Cidadolls - Caliel Alves dos Santos 55077 Visitas
Caçando demónios por aí - Caliel Alves dos Santos 54960 Visitas
Sobrenatural: A Vida de William Branham - Owen Jorgensen 54901 Visitas
ENCONTRO DE ALMAS GENTIS - Eliana da Silva 54826 Visitas
Coisas - Rogério Freitas 54824 Visitas

Páginas: Próxima Última