_ Dez balas, um real!
Gritava o aprendiz mirim de ambulante.
_ Dez balas, um real!
_ Não é não...
_ Não é não...
Murmurava a multidão.
Distraído,
João não viu que o trem chegava
E que ofegava a multidão.
_ Dez balas, um real!
Cantava o recém-admitido
No mercado informal.
_ Dez balas, um real!
_ Não é não...
_ Não é não...
_ Dez chicletes, um real!
Brincava João.
O trem:
_ Tô chegando à estação...
_ Tô chegando à estação...
Ansiosa, se acotovelava a multidão.
O trem parou.
Apressadas e preocupadas
Com as próprias contas,
As pessoas entraram e saíram do trem.
Rapidamente, a estação ficou vazia.
Pelo chão, balas e chicletes do bailerinho,
Que não tinha mais que seis anos...
Negrinho sapeca, filho de mãe solteira,
Irmão de outros meninos e meninas
Desnutridos e foragidos da escola.
Sem um gemidinho,
O baleirinho foi arrastado pela serpente de ferro.
Morreu tão rápido
Que nem teve tempo para xingar a multidão,
Que distraída o empurrou para a boca do dragão.
Sem o menor remorso,
Desculpava-se o vilão:
_ Não fui eu não...
_ Não fui eu não...
_ Não fui eu não...
_ Não fui eu não...
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