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LAMENTOS DE BALSAS
jose neto formiga nascimento

Resumo:
O texto expressa minha insatisfãção para com a Administração Pública Municipal da cidade de Balsas - MA

Edilza Virgínia chamou-me de “princesinha do Sul do Maranhão”. Será se ainda vale a pena eu ser tratada desta forma? No passado, quando eu ainda engatinhava rumo ao progresso, onde o desejo incessante de crescimento corria nas veias dos bravos fazendeiros e vaqueiros, talvez eu merecia o título de princesa. Mas o tempo passou e a chama viva da grandeza apagou-se. Hoje meu nome causa indignação.

Infelizmente não me deram uma educação que me permitisse levar sempre esse título. Eu queria que todos tivessem orgulho de mim, queria ser uma das melhores cidades da região, visto que é em minhas terras férteis que germina a soja que sustenta a economia no sul do Maranhão. É tanto que até me chamaram em outros tempos de capital da soja. Nem eu mesmo sei se ainda sou considerada assim. Sei apenas que me chamam de Balsas, e eu me orgulho do meu nome, é claro! Não de mim, cuja face está marcada pelas lágrimas de um povo que clama por justiça, que sonha com dias melhores, talvez o dia em que pisará em um chão digno. As feridas que foram cravadas em meu peito são incuráveis.

Obrigado Edilza, por fazer um hino tão admirável, que na verdade não reflete a minha verdadeira face. Ele foi cantiga de ninar apenas para meus primeiros anos de vida. Hoje em dia eu me envergonho de ouvir seu hino, que eu o chamo inclusive de obra de arte. Você fala que o sol brilha em mim, e brilha sim, e o reflexo do sol é visível na poça de água que se formou em meio aos buracos que foram causados pela chuva. Mas a chuva passou, e o buraco ainda continua lá cheio de água, refletindo os raios reluzentes do sol. Que coisa magnífica!

Ainda bem que eu tenho direito de manifestar o meu pensamento. E eu penso assim: acabaram comigo, não há uma gota de esperança que indique progresso. As pessoas que moram em mim choram nos corredores do hospital, na esperança de serem atendidas ou até mesmo saírem vivas dali, escapando da incompetência de funcionários que matam. E matam mesmo. Atire a primeira pedra aquele que nunca ouviu uma história de alguém contando que “mataram mais um no hospital, vítima da pior doença: incompetência dos funcionários”.

Vou falar das escolas. Aliás, não vou falar nada, todos estão vendo, assim como estão vendo as ruas, as avenidas, a panelinha que se forma nos corredores da prefeitura. A segurança social é uma questão crítica. Pelo visto as pessoas estão mais seguras nas ruas da cidade do que em suas próprias residências. Na verdade eu nem sei onde é mais seguro. Nas ruas da cidade as pessoas sofrem acidentes em virtude dos buracos, e na sua própria casa são surpreendidos por bandidos que ousam tirar a vida do seu próximo, ferindo aos princípios de Deus e da sociedade.

Recentemente eu completei mais um ano de morte. Não comemoraram meu aniversário por não haver motivos para se comemorar. Eu estou abandonada, chorando pelos cantos, preocupada com meus filhos, meus queridos filhos, que colocaram alguém no poder somente para acabar comigo. E conseguiram. Parabéns filhos de Balsas, por conseguirem me jogar na lama, eu só queria continuar sendo a princesinha do sul do Maranhão, e nada mais.

Peço licença para calar-me e deixar que reflitam acerca daqueles em que vocês balsenses colocam no poder. Da próxima vez procure alguém que possa pelo menos tentar devolver a minha dignidade, que foi roubada, no momento em que vocês pressionaram a tecla verde daquela odiável urna eleitoral, que guarda em si o nome do criminoso que me matou.

Balsenses, eu estou morrendo. Podem até colocar na entrada da cidade uma plaquinha com a frase: “Aqui jaz Balsas querida, cidade dos meus amores”. Me ajudem meus filhos, ainda há tempo. Quero que entendam pelo menos, este meu pedido de socorro, refletido nestas poucas palavras que eu mesma escrevi, e que servirá para calar a voz daquele que canta o hino chamando-me de Princesinha do Sul do Maranhão.

Meus queridos balsenses, já que não podem impedir que eu derrame lágrimas, pelo menos me dêem um lenço para eu secá-las. Mas eu ainda tenho esperanças de ouvir da boca de vocês, balsenses, os versos de Gonçalves Dias: “Minha terra tem palmeiras onde canta o Sabiá”.

Talvez quando lerem esta carta eu já tenha morrido. Por isso me despeço da seguinte maneira: Foi bom ter sido palco de progresso para o sul do Maranhão. Fiz o que pude, e em troca lançaram uma flecha em meu peito sem ao menos colocar um pouco de mel na ponta. Mataram-me cruelmente.

                                                        Assinado: Falecida Balsas




TAMBEM DISPONÍVEL EM

http://formiganeto.blogspot.com/2011/04/lamentos-de-balsas.html

Jornal Folha do Cerrado - Edição Maio de 2011

http://luizrochafilho.zip.net/


Biografia:
José Neto Formiga Nascimento é estudante de Letras da Universidade Estadual do Maranhão
Número de vezes que este texto foi lido: 52808


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Publicações de número 1 até 9 de um total de 9.


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