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Jato Sólido
LASANA LUKATA




No esguicho da mangueira de apagar incêndios, usada pelos bombeiros, há o jato sólido, a neblina de alta e a neblina de baixa. Há muita gente com o salário em neblina de baixa. O Bolsa Família é uma neblina de baixa se comparado não aos governos anteriores, mas ao volume de riqueza que entra no país. Só um jato sólido acabaria com a miséria.

Na semana passada os jornais trouxeram uma notícia, em neblina de baixa, que tinha uma decisão contemporânea para um fato antigo, bem antigo: o uso de subalternos, pagos com dinheiro público, como faxineiros e cozinheiros em casas de generais, coronéis, vice e contra-almirantes?

A Justiça se manifestou: “Justiça proíbe militares de fazerem tarefas domésticas para oficiais. A decisão é da 3a Vara Federal de Santa Maria (RS) e vale para o todo o país.” Ainda na notícia vinha a afirmativa de que “Nas Forças Armadas ninguém faz qualquer oposição”. Mas nem os constrangidos? Por que?

Fiquei esperando o resto da semana para ver se alguém mais comentaria o fato. Comentaram no rádio e Carlos Heitor Cony até que saiu com uma neblina de alta sobre o assunto, mas não chegou ao jato sólido. Também! Ambos Cony e Viviane Mosé estão perdoados. Não foram soldados. Cony ia ser padre e Viviane vivia nos consultórios clinicando seus pacientes de psicologia antes da filosofia, mas eu, eu fui soldado e vi os peitinhos da filha do comandante tomando banho na piscina da sua casa e cheguei oficial sem a mínima condição de ser... Fui um taifeiro de sorte. Ah se todo constrangimento fosse esse...

Na ação em que os autores são os Ministérios Públicos Federal e Militar, entendeu o procurador da República que outra situação foi levada em consideração: “O constrangimento a que esses militares são submetidos”. Eu diria um constrangimento proveitoso. Muitos desses taifeiros, mecânicos, empregados domésticos, como queiram, receberam alguma felicidade. Daí o silêncio? A felicidade de não estar numa escala de serviço apertada de 2X1, das pesadas faxinas nos navios ou quartéis já é uma felicidade.
Vale dizer aqui a máxima que os Ministérios Militar e Federal atiraram no que viram e acertaram no que não viram. Olha se há tanto tempo isso acontece por que o interessado direto, o soldado, taifeiro, mecânico, nenhum deles reclamaram? É que alguma felicidade eles recebiam.

Vou contar uma lenda: no tempo em que os almirantes chegavam a Ministro, havia na terra de Uz certo almirante que era Ministro da Marinha. Na casa desse almirante trabalhava um pobre e constrangido taifeiro que já havia chegado a cabo e o seu grande sonho era ser oficial, mas o interstício de cabo para sargento à época era de 3 anos e mais 3 anos de sargento para fazer a prova para o oficialato, totalizando 6 anos. Num tempo em que a velocidade era preconizada e, já em curso, isso era esperar demais.

Um dia abriu, uma única vez, na Marinha, prova para oficial, e que os cabos, além dos sargentos, estavam autorizados também a fazer essa prova. Não se espantem porque já houve lei no nosso Brasil, uma Lei de Divórcio, que vigorou por um dia, apenas para beneficiar um parente de Getúlio Vargas...
Mas lá estava Jó, o nome do nosso cabo taifeiro é Jó, sofriiiido, coitado, com aquela luz brilhando para ele. Inscreveu-se. Fez a prova. Sem nenhuma condição de ser aprovado. E de todo o efetivo de cabos da Marinha do Brasil que prestou concurso para oficial, só um cabo passou: O cabo taifeiro que trabalhava, muito constrangido, na casa do Almirante-Ministro. Cabo Jó, que sofreu um inferno nas mãos da família do almirante, vejam como era terrível ficar vendo os peitinhos da filha do comandante na piscina, mas saiu de lá oficial.

Outro Motivo que justificou a ação civil pública era que são “submetidos a constrangimentos e suas atividades influiriam nas avaliações do militar, que teria a promoção retardada e seria submetido a inspeções de saúde mais frequentemente do que os demais.”

Como o leitor viu na minha lenda marinheira, não há retardo, mas avanço na promoção de soldados, marinheiros e fuzileiros incapazes. Como estamos aí com este incêndio dos bombeiros, muitos, só Deus sabe como passaram na prova para sargento. E vejam: virar uma laje da casa de um capitão bombeiro no final de semana, por exemplo, pode resultar em uma semana de licença paga pelo erário. Bombeiro é fogo!


Biografia:
Lasana Lukata é poeta, escritor por usucapião, São João do Meriti, RJ.
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