“Escrevo duro
escrevo escuro
Neste muro
o que procuro, furo”.
Max Martins foi autodidata, poeta paraense, nasceu em 20 de junho de 1926, em Belém do Pará, e morreu em 09 de fevereiro de 2009. Muito jovem se interessou pela poesia e sempre foi em busca do novo.
Max Martins, foi um dos maiores nomes da poesia nacional. Ele despertou a atenção nacional, passando a limpo os conflitos agrários.
“Sua poesia é (in)tensa, possui um discurso poético que resulta da escavação lingüística, verso rupestre moldando, no corpo do poema”, nas palavras de Elias Ribeiro Pinto.
A poesia de Max, como observa Benedito Nunes, nasce, renasce de rumores de crises – é no limite da página que o poeta supera seus limites.
Conta o amigo Benedito que Max começou como editor e fabricava os livros datilografando seus poemas e os de Benedito. Essas tiragens caseiras de único exemplar, que corria de mão em mão dentro de um pequeno grupo. Aprenderam a metrificar e a rimar os poemas com Jurandir Bezerra e Alonso Rocha, e a contar sílabas pelos dedos da mão direita. Naquela época honravam o parnasianismo e fundaram uma academia com espírito comum na maneira de sentir e de pensar o mundo real na literatura.
Os primeiros textos de Max foram publicados por Haroldo Maranhão no jornal escolar “O Colegial”. A partir desse momento surgiu a amizade entre Haroldo, Benedito e Max, que perdurou por mais de 50 anos. Juntos, participaram da “Folha do Norte”.
O conjunto da obra de Max revela dois fatos que contribuíram para o desenvolvimento da sua poesia: a convivência intelectual com Robert Stock e o impacto do livro de Mário Faustino (O Homem e Sua Hora). O poeta Max ao lado de Benedito e Faustino viu chegar a modernidade na poesia brasileira.
Com a chegada do Modernismo, Max sofreu várias crises: a primeira, ele resolveu em O ESTRANHO (1952), recorrendo ao verso livre: “Não entenderás o meu dialeto / nem compreenderás os meus costumes / Mas ouvirei as suas canções...”. A segunda o levou para o ANTI-RETRATO (1960), foi nesse livro que a temática do amor carnal tornou-se o centro da sua obra: “Os seios não são como as ondas, / colo de pedra lisa, espuma e sal; / mas o corpo todo um pasto branco para o canto...”. O ANTI-RETRATO marcou as relações “coletivas” de Max com os poetas e romancistas nacionais e estrangeiros. Max teve em Bob Stock o seu mestre de poesia.
A terceira crise surgiu entre H’ERAS (1971) – fala por muitas vozes, metamorfose do EU: “o amor tecido contra o muro”; o amor e o desamor, sim e não, passado e presente, nessa alegoria o poder das expressões fixa-se no “desenho” da palavra central (hera, era, eras), “a tarde era um problema...” – e o OVO FILOSÓFICO (1976). Os poemas desse livro trouxeram a resposta problemática. O autor nessa fase interpretou a sexualidade, o ideal da completividade e o significado das palavras, mas sempre mantendo a relação do poeta com a palavra ativa: “ovo e olho / raiz e velo / a um valo / paralelos”. O OVO FILOSÓFICO e O RISCO SUBSCRITO (1980), são poemas espaciais e líricos, reflexivos, misturando-se com visual discursivo: “na praia / o mar joga sua carta / ágrafa”.
A quarta crise foi marcada pelos livros: “NÃO PARA CONSOLAR” e “MARAHU POEMAS”. Nesta a sua poesia foi desenvolvida aos sobressaltos, em surtos de criação. As transformações o levou a diferentes fases da poesia e à descontinuidade com modificações, em diversos ciclos, que caracterizaram a poética do “NÃO PARA CONSOLAR” (1992): “A velha matriz branca / de portas largas / sozinha na praça / olhando o rio sujo”. Max retorna à perspectiva da poesia como “trabalho de arte”, que significou a composição intelectual controlada pelo poema, enquanto objeto estético do anônimo; o labor reflexivo do poeta com a matéria das palavras.
Na década de 40, Max recebeu a herança pós-modernista e, na década de 80, faz descobertas poéticas e escolhas intelectuais que homenageia com “A FALA ENTRE PARÊNTESIS” (1982) – livro que enriqueceu a sua individualidade poética. Já em “CAMINHO DE MARAHU” (1983), a característica foi a fisionomia espacial e a forma epigramática, na sugestão do “haicai”, mudando a forma do poema moderno-tradicional. Essa alternância marca a sua escrita e trouxe como estilo, no livro–pochete: “... te insinua às sombras (que estão nos outros – e subsistem ao gráfico parêntesis: - Flechas ferindo-se no espelho. Reflexos / Dança indefinida... “.
A sua poesia traduz a habilidade em modificar a liberdade que o destino lhe colocou; é uma poesia iluminada por metáforas úmidas, tem como tema o processo da escrita e faz uso do lirismo como instrumento da língua.
Como escreveu Amarílis Tupiassu, “Com ele a palavra sempre atinge além do possível. Forma, disposição da grafia, cor, ritmo, sonoridade, disjunção e conjunção de elementos significativos, ..., a palavra em sua integridade ou fragmento, ..., prefixos que ganham o mundo sozinhos desmembrados de seus radicais; colagens, grafismos, o desenho, a visualidade, a imagem, ... Max Martins, este poeta paraense para quem a construção, a fruição da poesia é ato vital...”.
Essa é uma amostra do que seria a meu ver a virtude de Max entre tantas outras virtudes da sua poesia: “O rio que eu sou / não sei / ou me perdi”. Deixa saudades e incentivo para autores e leitores colherem os frutos das sementes que plantou.
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