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A Sogra
Vanderlei Antônio de Araújo

Ultimamente, vinha notando que sua sogra, uma mulher muito bonita e atraente, estava interessada nele. Ela exibia-se de todas as maneiras, usando como isca o próprio corpo voluptuoso e sensual. E o pior que nem procurava disfarçar. No começo, fingiu que era tudo por acaso, mas sabia muito bem o que ela queria, como sabia.
   Manietado, porém, pelo fato de ser seu genro, ele procurava desestimulá-la, mais preocupado com a esposa do que pelo que poderia acontecer. Muitas vezes, ro-gava aos santos sua proteção com medo de não resistir aos apelos dos instintos. O remorso o reprimia inconscientemente.
Com o tempo foi ficando cada vez mais abusada, deixando o decote desabotoado, cruzando as pernas de maneira provocante, enfim, lançando mão de todos os recursos de que uma mulher bonita dispõe para seduzir um homem. Quando ela se sentava à sua frente e, propositadamente, levantava a saia, deixando a mostra um pe-daço da coxa, desviava os olhos, embora não conseguisse mantê-los longe por muito tempo, mesmo fazendo um esforço enorme para não olhar. Apanhado em flagrante, disfarçava-se com medo de que aquilo fosse um incentivo a ela.
   E assim, por vários dias, prosseguiram nesse jogo de gato e rato. Ela, a persegui-lo com gestos e olhares maliciosos e convidativos, e ele, de vez em quando, respondendo positivamente, mas com alguns trejeitos de negação pouco convincen-tes. O maior medo era de que sua mulher percebesse algo entre eles. Só não entendia porque ela ainda não havia notado nada. Mulher fareja tudo. Entretanto, nunca viu nela o menor sinal de desconfiança. Também pudera, sempre fora uma desligada. Tinha uma fraqueza de espírito que a fazia ingênua e sem malícia. No entanto, no seu íntimo, por machismo ou vaidade, os sentimentos foram mudando, e assim, entre o medo e o desejo, ele se entregou às fantasias sexuais, e o pior, passou a gostar das exibições cada vez mais provocantes da sogra.
   Já interessado, passou a procurar uma maneira de envolvê-la num plano que resolvesse aquela situação de uma vez. Seria uma jogada que no mínimo revelasse a verdadeira intenção dela, mas sem provocar a desconfiança da filha. Se desse certo poderia até ficar com as duas. No domingo, pela manhã, saiu para comprar jornal, e aí, veio-lhe uma idéia que se bem representada, desmascaria a sogra e resolveria seu problema. De volta, sentou-se no sofá da sala e começou a ler o jornal. Na verdade, fingia ler. Na cozinha, sua mulher preparava o almoço, enquanto a sua frente, sua sogra de pernas cruzadas, folheava algumas revistas velhas e como sempre, de olho nele. Segurou o jornal à altura dos olhos e depois, muito lentamente, o abaixou. Olhou de rabo de olho para sogra e viu que ela não tirava os olhos dele. Voltou ao jornal e fingiu ler, novamente. Em seguida, fazendo-se de assustado com uma noticia no jornal, gritou:
   - Epa! Vejam isto aqui, que absurdo! O mundo está mesmo doido, nunca vi uma maluquice dessa.
E sem tirar os olhos do jornal, leu em voz alta, fingindo preocupação:
   - O governo acaba de assinar uma lei que obriga o genro a se casar também com a sogra.
Sua mulher, da cozinha de onde ouvira tudo, gritou indignada:
   - Que lei mais besta é esta. É o fim do mundo!
E entrando na sala, continuou:
    - Onde já se viu obrigar genro a se casar com a sogra? O governo está ficando cada vez mais maluco.
Disse isso em sua voz mais afetada, mas sem nenhuma maldade. Rapidamente sua mãe, retrucou:
    - Deixa de ser boba minha filha. Lei é lei e tem que ser cumprida


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