Budapeste o filme!
José Costa, Zsoze Kósta é um fantasma vagando em Praga, representando sua reveladora condição de ghost-writer. Senas de arrebentar as pupilas. Como se pode criar um mundo totalmente conturbado e lindo. Para os que gostam de dar um passeio no Hades, e voltar purificado, é uma boa experiência. O drama do escritor Costa desencadeia-se entre o desvelamento e o velado. De repente celebridade, outra hora anônimo. O desespero de deixar que os outros apareçam, ou engoli-los com seu ódio.
Como é escrever sobre aquilo que não conhecemos? Estrangeiro em Praga, espicaçando a língua, cultura, pronúncia. Apaixonado por Krista uma mulher exótica, que he ensina a malandragem da fonética húngara.
O escritor anônimo, desolado entre espasmos, delírios; embrenhando-se pelos guetos literários, o beco dos fracassados. A princípio, quando se escreve, dialoga-se com o fracasso. Eu acho que isso faz parte da vida literária. A literatura é o lugar de excelência do fracasso. Digo isso porque, tratando-se de literatura, independe-se de talento e dinheiro para ser reconhecido; é algo mais, é A Roda da Fortuna ou o acaso. E isso que desafia-nos, e que nos convida atirar-se no abismo a procura do texto exato. Daí é que nascem os gênios. Foi assim com Machado, Kafka, Rimbaud e muitos outros.
Não nos enganemos, a literatura tem seus mistérios; e ela não dá a qualquer um, o privilégio de tornar-se gênio. Às vezes é o fracasso mesmo!
Vejo no filme essa agonística intrínseca na alma do escritor, o dúbio palpitar de seus pensamentos confusos. Sempre se está pensando o que escrever como resolver aquele empasse com seus personagens.
O filme também tenta resolver, decifrar, o miserável trajeto do escritor que insiste em dilacerar-se com seus questionamentos psíquicos tempestuosos. Um problema recorrente dos escritores: nunca serei conhecido? Quem perguntará quem foi o sujeito que escreveu isso? Porque é difícil, não querer aparecer querendo!
Essa eclosão do animal escritor que é magnífica no filme e muito bem resolvida. No meu vago olhar turvo, e o que dá ao filme uma dimensão precisa na narrativa; exaltada pela fotografia amarelada, ou melhor, Açafrão; de Praga até o cinzento Leblon. A grande obra assim se faz, transforma-se, torna-se sétima arte.
Digo Açafrão, a cor do livro é essa. Na minha loucura, visto agora a túnica ritual, feito o escritor desconhecido. Sonâmbulo dirijo-me aos bosques, avistando os seguidores de Eleuses e seus mistérios. Mergulho no mar do Leblon e apareço em Praga, comprado cigarros "facskë", em algum bar triste e desolado!
Acho muito interessante o capítulo específico, sobre a atividade do ginógrafo. E para tal, temos que escrever no corpo de Tereza, ir em frente, escrevendo no corpo de mulheres que gostam; imprimindo com a "caneta" símbolos tântricos e derramando tinta nelas. Algumas até pagamos, para que a escrita seja valorizada. E nunca esqueçam; que em húngaro buceta é Pucint, peito é Mellkas, bunda é Segg, cu é cu mesmo.
Ass, Biosas
|