INDIFERENTE ao fulgor do sol a pino,
sem um teto sob o qual possa abrigar-se,
vestindo andrajos, pés nus, corpo franzino,
olhar súplice, sem ter com que apegar-se,
esmola só, nos semáforos, o menino...
O carrão de luxo vai aproximar-se,
mas ao ver o trapo humano o grã-fino
sobe o vidro, vira o rosto num disfarce.
Dói mais que a própria fome a humilhação...
Ele sai cabisbaixo, mas vem alguém,
e ele, de novo, insiste e estende a mão.
Por fim a noite cai. Longe do clarão
da cidade, que agora dorme, ninguém
enxerga o bicho que remexe o lixão...
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