Toda a minha força de vontade foi necessária para chegar a um dos poucos lugares ainda disponíveis, ao lado de um rapaz com rosto em forma de triângulo e olhos azuis, que me olhava como se pudesse ler meus pensamentos, o que na verdade não me surpreenderia, tamanho era meu espanto.
Meio hesitante, estendi minhas mãos até que as palmas tocaram a superfície falsamente quente do móvel e vagarosamente deixei-me sentar.
“Estou sonhando”.
“Nada disso é verdade. Nada disso e nem eu estou aqui.”; pensei em aflição.
A luz da sala de repente ficou embaçada, e esfreguei os olhos.
O homem a frente de todos me olhava ou admirava meu mudo comportamento, em silêncio.
Apesar de mais velho do que eu, seu cabelo castanho-escuro, mal cortado e os olhos brilhantes, lhe davam uma aparência mais jovem do que realmente deveria ser.
Gostei dele e por um momento de loucura pensei que de certo modo poderia assegurar-lhe que estava ali para somar, então para afirmar minha intenção sorri, com o canto dos lábios, mas não vi nenhuma mudança de expressão, nenhuma manifestação de alegria, frieza ou qualquer outra característica cruzar seus olhos.
Frustrada, voltei o rosto para aquele que insistia em ler minha mente, temerosa de que ele realmente podia fazer isto e notei que seus lábios se moveram, quase em um sorriso, mas nenhum som deixou sua boca carnuda.
Sem entender, sacudi meus ombros magros, baixei os olhos e fiquei a correr os dedos pela superfície áspera do móvel, esquecida de sua proximidade.
O som de alguém que limpava a garganta me sobressaltou e rapidamente levantei os olhos, pronta para entrar em ação, pois sabia que ninguém viria acudir-me, da mesma forma como não tive nenhum tipo de ajuda durante os meses necessários para chegar até este momento.
De repente me senti mal. Enjoada. Com vontade de vomitar.
Como o ar quase não circulava pela única janela existente, a sala lotada de pessoas parecia um forno, aos poucos cozinhando meus pensamentos.
Fechei os olhos, começando a deduzir que não estava tão preparada quanto pensava estar, e na escuridão de meu cérebro vi raios brilhantes correndo de um lado para outro e pensei que talvez esta minha aventura fantástica estava começando a ter consequências mentais, além das físicas.
Respirei várias vezes, o mais rápido e fundo que pude, até que ouvi a voz preocupada a meu lado:
“Você esta passando mal?”
Neguei com a cabeça, recusando-me a aceitar a tontura que em lenta agonia derramava-se por sobre meu cérebro, confundindo meus sentidos.
Sacudi ambos os braços sobre a mesa, que parecera ter mudado de marrom para um tom de cor muito claro, pensei por vários minutos e sentindo que meus pés perdiam contato com o chão, perguntei:
“Você esta aqui ha muito tempo?”
“Dois anos.”; respondeu ele, sem mover os lábios e tive a impressão de que seu rosto se iluminava.
Sem dizer nada, cobri o rosto com as mãos, como alguém faz quando vai chorar e pude sentir meu peito arfando, parecendo que meus pulmões falhariam a qualquer momento, a sola dos pés completamente encharcadas de suor, dando-me a sensação de estar a caminhar dentro de uma lagoa rasa e até hoje não sei onde encontrei forças para separar os dedos de minhas mãos, sem tirá-las do rosto, espiar para fora e desesperadamente mandar, com o olhar, um desesperado apelo para que ele me dissesse algo, alguma coisa, qualquer coisa que evitasse que eu levantasse e saísse correndo.
Sorrindo, ele disse:
“Acalme-se, o primeiro dia de aula na universidade é assim mesmo. Comigo aconteceu a mesma coisa.”
Sua voz, calma e tranquilizadora surtiu o efeito desejado, relaxei e tratei de prestar atenção ao que aquele homem lá na frente, ou seja, o professor estava falando e pensei:
“Finalmente eu sou uma universitária.”
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