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DEZ MINUTOS
DEZ MINUTOS
LLEAL

Resumo:
Questão de tempo.

17.55.00 – Chequei as horas e como movimento reflexo de um susto, fechei os olhos e parei, sentindo o ar quente bater em meu rosto, e assim como sabia que estava ao sol, pois a luz atravessava minhas palpebras, também era sabedora de que tinha apenas minutos para tomar coragem e alcançar meu objetivo.

17.56.15 – Incapaz de encarar minha própria realidade, temerosa de talvez encontrar a face da derrota, senti-me sufocada entre os muros altos que circudavam o local onde me encontrava.
Sorrateiramente, parecendo uma criança a fazer alguma arte, entreabri o olho direito, consultei o relógio novamente e meu coração saltou.
O tempo, impiedoso, veloz, escorria.
Fechei o olho e mantive os dois cerrados com mais força ainda.

17.57.30 – Arrependida de meu comportamento, abri os dois olhos, avancei alguns passos e distingui, de forma quase entendível, aquilo que desesperadamente evitava aproximar-me.
De repente, ao virar o rosto para a esquerda, deparei-me com alguém que me encarava.
Seus olhos negros eram como uma lâmina de metal e, a decepção estampada na face era como uma lasca de gelo enfiada em meu estômago.
Senti um arrepio de frio e imediatamente um suor quente cobriu-me a testa.
Desviei o rosto, produzi um ruído de agonia no fundo da garganta, umideci os lábios e completamente imóvel, rigida como uma estátua de bronze, senti pedras de gelo gigantescas perfazerem o caminho de minha coluna. Minhas mãos enregelarem-se quando notei, enquanto ouvia o barulho de meus dentes a baterem uns contra os outros, que muitos se afastavam cabisbaixos e outros riam, gritando histericamente, então me coloquei a pensar em qual grupo eu me encaixaria.

17.58.45 – Consultei o relógio novamente e em segundos pude ver, com olhos admirados, no vidro que protegia os ponteiros, minha vida inteira desenrolar-se, retrocendo no tempo, os longos dias e noites sem fim, minhas lágrimas, sorrisos e esperanças, as imagens levando-me ao momento em que tudo aquilo começara.

17.59.15 – Sentindo minhas órbitas doloridas, arqueei as sobrancelhas, como forma de impedir os olhos de se fecharem mais uma vez, respirei com dificuldade, balancei a cabeça, afastando as chamas vermelhas do passado até desaparecerem e inconscientemente levantei o pulso esquerdo para ver as horas.
Logo a seguir, sem hesitar e com algum esforço, desviando-me das pessoas que insistiam em bloquear minha visão, percorri a distância restante, até me colocar a apenas centímentros da razão pela qual ali estava. Ergui o braço corajosamente, passei de leve o longo e trêmulo dedo da mão direita sobre a superfície áspera e fiquei, por eternos segundos, cautelosamente procurando, procurando, procurando.

18.00.00 – A princípio não consegui dizer nenhuma palavra e pisquei várias vezes sem tirar os olhos da lista que se descortinava diante de meu olhar.
Eu encontrara. Não era um sonho.
Tentei respirar, mas em vez disso, pequenos arquejos brotaram de minha boca.
Gotas frias de suor irromperam nas palmas de minhas mãos e têmporas.
Com os olhos pregados na lista senti-me incapaz de desviar os olhos, era como se a informação houvesse penetrado em minha mente e a tivesse aprisionado em um êxtase bizarro.
Um instante depois meus lábios se separaram com surpresa e espanto, então com a sensação de alguma coisa presa na garganta senti o rosto enrijecer e meu corpo tremer sem compreender muito bem as tensões em meu íntimo.
Devagar e com graça infinita, meu cérebro começou a absorver a realidade.
Então uni as mãos em oração, ergui-as para o céu, agradeci e entendi que aquela era a minha realidade.
Meu nome estava ali.
Eu fora aprovada no vestibular.
Soltei uma risadinha curta, parcialmente histérica, bati e bati palmas, sentindo as lágrimas surgirem em meus olhos, libertei a garganta do nó que a prendia e gritei, rindo alto, fazendo meus gritos soarem como uma sirene em meio a um ataque aéreo:
“Consegui! Consegui! Consegui!”
Então, sentido-me estimulada pelo vento que inesperadamente surgira, atirei a cabeça para trás, ri comigo mesma e como se adagas pontiagudas estivessem cutucando minhas costas, corri em direção a parada de ônibus.
O último ônibus, que me levaria para o bairro onde morava passaria em cinco minutos.


Este texto é administrado por: luis carlos binotto leal
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