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NUNCA MAIS
NUNCA MAIS
LLEAL

Resumo:
Uma atitude.

Sentido os cabelos da nuca arrepiados, tive um súbito pressentimento de perigo, quando a luz forte, brutalmente invadiu-me a retina dos olhos, confundindo-me os reflexos e por muitos segundos não soube o que fazer.
Respirei profundamente, na tentativa de trazer ar puro aos pulmões e oxigênio para o cérebro e afastar as imagens de horror que dançavam dentro de minha mente enquanto escutava uma voz no intimo do coração perguntar-me: “Por quê? Por quê?”
Incapaz de responder, sentindo os olhos encherem-se de água em meio a pensamentos que se entrechocavam, distorcendo ainda mais minha visão, percebi a contração de meus membros inferiores.
Gotas de suor pingaram de meu rosto, encharcando-me o colo e meus lábios tremeram descontroladamente quando fiz esforço para falar, mas apenas balbucinei palavras impossíveis de serem entendidas que soaram como o sussuro de um lamento de dor então, inexplicavelmente ao invés de obedecer o comando de manter-se firme, minha cabeça vacilou e eu baixei o olhar.
Parecendo ser produto de violento choque elétrico, o som que cruzou minha mente, fez com que minha cabeça fosse erguida de uma vez e ao encarar o espelho vi que apesar de enxergar cada vez menos, meus olhos estavam esbugalhados.
Por instantes, produzindo um calafrio que nunca experimentara, senti um par de mãos em minha cabeça, os polegares pequenos e delicados em minha nuca, acariciando-me como se eu fosse uma criança e imaginei serem os dedos de minha esposa ou talvez de um de meus filhos.
“Quem está ai?”; perguntei, mas do interior da face negra da escuridão não houve resposta.
Esgotado pelo desesperado esforço de manter a mente lúcida e os olhos abertos, sentindo o sangue, com violência, a pulsar nas têmporas, esquivei-me da próxima luminosidade; mas o medo, subindo-me pela garganta, como vômito se fez maior e mais presente.
Manchas pretas dançaram com frênesi doentio diante de meus olhos e o tumulto aumentou em muito na área do cérebro onde as idéias estáveis estavam alojadas.
No silêncio suspenso, senti um espasmo facial, a garganta contrair-se e uma letargia esmagadora tentar privar-me de qualquer pensamento racional quando entre as dores que inoportunamente surgiram em meu estômago, torcendo-o, dilacerando-o, a visão desenhou-se tão real e forte quanto o golpe de um soco.
A luz agora era diferente.
Carregava medo em seu brilho.
A imagem disparou um relâmpago visual, enchendo minha mente, fazendo o sangue correr tão forte em minhas veias que quase fiquei sem fôlego e os sons de um tambor sendo freneticamente martelado, cada vez mais rápido, substituiram as batidas de meu coração.
Pensei em erguer as mãos para o céu e implorar por salvação, enquanto, a muito custo, deduzia, furando o torpor que lentamente se espalhava pelos meus sentidos, que se persistisse em agir desta forma, estaria perdido.
De repente, a parte ainda sã de minha mente foi inundada por sensações descontroladas e meus pensamentos foram arrastados para um lugar longínquo, como se eu estivesse entrando em um sonho, mesmo acordado.
“Não!”; reagi gritando, meu grito angustiado ressoando pelas trevas ao mesmo tempo em que a mesma pergunta, como se fosse uma mosca incômoda, retornava, insistentemente, ao topo de minha mente
“Por quê?”
Esperei, enquanto grotescamente tentava manter-me desperto, até compreender que não haveria resposta.
Com a cabeça a rodar em ritmo alucinante, com a sensação de estar sendo tragado por um redemoinho, num último gesto de um condenado, sacudi os pensamentos, mas o mundo permaneceu impassível ao meu sofrimento.
De súbito, dando-me conta de que outra luz flutuava diretamente sobre mim, carregando a morte em seu interior muito branco, encolhi-me em minha vergonha, enraizei as mãos ao volante, e num movimento completamente desarticulado, desviei o carro para o acostamento e estacionei.
Parado no escuro e silencioso interior do carro, encarei o espelho retrovisor interno novamente e encarei um rosto que não reconheci.
Lutei para dizer as palavras que vinham de meu coração, mas elas ficaram entaladas na garganta e assim fiquei por longos minutos a ver as luzes de outros carros se distanciarem mais e mais na rodovia pouco iluminada então, corroído pelo remorso, fechei os olhos e comecei a chorar, certo de que jamais teria oportunidade igual para permanecer vivo junto com aqueles que tanto amava.
Naquele momento, solenemente, prometi a todos e a mim mesmo que nunca mais beberia e tentaria dirigir.


Este texto é administrado por: luis carlos binotto leal
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