Login
E-mail
Senha
|Esqueceu a senha?|

  Editora


www.komedi.com.br
tel.:(19)3234.4864
 
  Texto selecionado
O Causo do Chico Anjo
Onildo Rodrigues Soares

Resumo:
Chico Anjo conta um causo para as crianças à beira de um fogo atiçado no centro da cozinha... Ele não sabe ler e nem escrever e a sua história não tem lógica, mas mexe com a imaginação.

O causo do Chico Anjo.
       
Num lugar longe, para lá do Sertão, morava um caboclo dos meus, laçador de boi bravo e amansador de cavalo novo, refugador. Recebeu convite para encontrar com o capeta nas profundezas do inferno para um desafio de sabedoria; quem perdesse teria de realizar três desejos do vencedor.

Para essa empreitada preparou as coisas com antecedência; amolou o facão, o punhal, botou as matulas no bornal e os escritos de reza brava na carteira. E depois botou o pé na estrada seguido da cachorra Siriema porque a região do inferno ficava longe pra chuchu ou pra dedéu como vocês preferirem.

-Então andou muito, concluiu o primo do Juca que mora do outro lado do córrego.

-Andou que rachou o calcanhar!

-Nossa!

-Encontrou onça no caminho? Perguntou Mariinha.

-Das maiores! Cada grande, pintada!

-Nossa! Mas e daí, a onça mexeu com ele?

-Ora! E dava trela pra onça? Este tipo de bicho corta longe de Homem Bravo.

-Nossa!

A pois, chegando na beirada do mundo avistou o inferno na ribanceira, um precipício horrível.

-Êpa! Gritou o professor.

-Nhor sim! O contador de causo concedeu a palavra ao educador que interveio na história diante da obrigação natural que os professores têm de corrigir ensinamentos errados aos seus alunos.
      
-Não existe beirada de mundo, Sô Chico, pois o mundo é redondo feito uma laranja.

-E quem falou isso? Foi o Viquinho?

-Não!

-A pois, então foi outro fazendeiro rico da região?

O professor não se lembrava o nome do descobridor de que a terra fosse redonda. Deu um branco. E como demorasse a se lembrar este ponto importante da história recebeu uma repreensão.

-Pois se não foi o Viquinho e nem outro fazendeiro rico da região que falou isso, então eu só posso pensar que o senhor está inventando. Senão, por favor, diga quem foi o inventor dessa asneira...

O professor ficou calado. O branco continuava em sua cabeça, feito neblina da manhã no pé da serra. Então o caso prosseguiu.

O homem bravo na beirada do mundo olhou para baixo e avistando o inferno bem no fundo fez sinal da sua presença conseguindo que viessem buscá-lo numa carruagem de fogo puxada por dois cavalos que voavam. Assim que pousaram no inferno foi recebido pelo Trem Ruim que disse sem maiores delongas;

-Então você é o homem bravo que não teve medo de desafiar a minha sabedoria?

-Não tive, não tenho e nunca terei. Eu sou o homem bravo! Sou bravo, muito bravo mesmo!

-Então vamos ver até onde vai a sua bravura, ou melhor a sua inteligência. Começaremos o desafio imediatamente.Primeiramente lhe dou uma tarefa. Se cumpri-la adquire o direito de me desafiar e assim sucessivamente. Quem falhar será obrigado a realizar três desejos do outro. O Demo estava interessado no facão, no punhal e no olho de lobo seco que pertenciam ao homem bravo.

Ajustaram assim as regras do desafio.

A primeira tarefa do homem mau, transformar em mel o óleo fervente de um taxo preparado para receber a próxima alma a caminho dali, parecia impossível de ser realizada. Mas ele tinha o papel da reza brava na carteira, ajoelhou e pedindo a Deus alcançou o seu objetivo. O óleo foi espumando e se transformou no mais puro mel de abelha. Com isso ganhou direito a propor o seu desafio. O trem ruim ria como a informar que estava tranquilo quanto a sua vitória. Ele não esperava que o Homem Bravo possuía sabedoria quase igual a do Viquinho e recebeu um tarefa simples de ser realizda por qualquer vivente, mas não pelo administrador do inferno.

-O que aconteceu? O Capeta ficou com preguiça de trabalhar? Pertuntou Mariínha com pressa de saber o fim do causo.

-Nada. O Capeta preferiu perder o desafio.

-Como isso foi possível? Perguntou o professor já desdenhando do causo. O poder de Lúcifer só é menor do que o de Deus. Todos sabem disso, está escrito até na Bíblia. Que coisa foi essa que ele não consguiu realizar?

-Amar a Deus.

Ouviu-se um estouro, um cheiro de enxofre, e o demônio desapareceu na fumaceira se cobrindo com a capa vermelha por dentro e preta por fora, aborrecido por ter perdido aquela batalha, pois preferiu a isso que amar o Todo Poderoso.

Mariinha bateu palma entusiasmada.

-Viva! O homem bravo ganhou o Capeta!

A notoriedade que o causo deu a Chico Anjo causou ciúmes ao professor que resolveu diminuir a história como podia.

-Historinha mais curta? É só isso?

-Não! O melhor do causo vem agora. Por ter vencido o Coisa ruim no desafio, o Homem Bravo exigiu o seu direito de realizar os seus desejos, ou seja, libertar três almas do óleo fervente.

Qualquer uma? Interessou o primo do Juca que mora do outro lado do córrego. Mesmo aquela que em vida colocou fogo no rabo do gato?

Não! O próprio Homem Bravo resolveu que libertaria dali almas que merecessem, que estivessem ali indevidamente, que em vida tivessem feito caridade.

-As que deram esmola? Perguntou-se em pensamento Mariínha lembrando a goiaba madurinha que deu a um andarilho. Tivesse alguma alma nessa situação iria direto para o céu?

-Para isso existe o Purgatório.

-E encontrou alguma ardendo no fogo do inferno injustamente? Adiantou Juca.

Primeiramente ele foi olhando de tacha em tacha pra ver se via por lá o Benvindo ou o Satiro velho porque estes foram fazendeiros ricos, mas conhecidos pelos bons corações que tinham, davam leite de graça para os filhos dos agregados, mas não os encontrou, talvez porque já estivessem no céu. Assim passou a entrevistar almas desconhecidas.

-E demorou a encontrar as que seriam libertadas? Quis saber o outro primo do Juca que mora do outro lado do córrego.

A procura demorou um ano, pois o inferno tem mais alma do que carrapato na capoeira. Mas não encontrou uma que merecesse sair dali. Só uma disse ter feito em vida uma caridade. Se havia feito por que estava ali? Perguntou o homem bravo.

-Foi uma caridade muito frágil.

-Explique-se melhor.

-Dei três folhas de cebolinha a uma pedinte.

-Mas, e então.

-Na hora de me puxarem para o céu arrebentaram.

-Na fazenda da senhora num tinha corda?

-Tinha, mas era para amarrar bezerros no pé da vaca.

Risos.

Assim, depois que entrevistou sem sucesso todas as almas voltou para casa chateado. Mas a sua luta não foi em vão, pois retornou mais famoso do que quando partiu e também por causa disso o Capeta nunca mais atentou gente da Matinha.

-Este causo seu não tem lógica, seu Chico Anjo. Reclamou o professor mas uma vez.

-Mais tem Homem Bravo que é muito melhor que lógica.

Juca concordou. Quando crescesse não ia mexer com nenhuma lógica, seria igual ao homem bravo







Biografia:
Escrever é fácil, o difícil é entender.
Número de vezes que este texto foi lido: 52818


Outros títulos do mesmo autor

Poesias Fryuds Onildo Rodrigues Soares
Contos Os Maridos de Dona Clara Onildo Rodrigues Soares
Artigos É possível aprender a ser feliz Onildo Rodrigues Soares
Poesias Direito a informação Onildo Rodrigues Soares
Poesias A apoteose do começo Onildo Rodrigues Soares
Poesias E a luz se fez Onildo Rodrigues Soares
Poesias A chave do céu Onildo Rodrigues Soares
Poesias Coisas da vida Onildo Rodrigues Soares
Poesias Fryusds Onildo Rodrigues Soares
Poesias O Luto Vermelho Onildo Rodrigues Soares

Páginas: Próxima Última

Publicações de número 1 até 10 de um total de 15.


escrita@komedi.com.br © 2024
 
  Textos mais lidos
JASMIM - evandro baptista de araujo 69005 Visitas
ANOITECIMENTOS - Edmir Carvalho 57916 Visitas
Contraportada de la novela Obscuro sueño de Jesús - udonge 56753 Visitas
Camden: O Avivamento Que Mudou O Movimento Evangélico - Eliel dos santos silva 55827 Visitas
URBE - Darwin Ferraretto 55095 Visitas
Entrevista com Larissa Gomes – autora de Cidadolls - Caliel Alves dos Santos 55037 Visitas
Caçando demónios por aí - Caliel Alves dos Santos 54922 Visitas
Sobrenatural: A Vida de William Branham - Owen Jorgensen 54881 Visitas
ENCONTRO DE ALMAS GENTIS - Eliana da Silva 54799 Visitas
Coisas - Rogério Freitas 54776 Visitas

Páginas: Próxima Última