Meu olhar se lança contra a multidão.
Buscando um rosto, apenas um rosto
Que me satisfaça por completo
Mas não o encontro. Ele não está lá,
Ela não está aqui, o corpo se faz ausente
Saudade...
Fecho os olhos num instante qualquer
E, na alvura dos pensamentos a procuro
Agora sim, a encontro. Pálida e linda como sempre
Posso vê-la, posso sentir seu olhar
Oh não, abro os olhos! O que era imagem
Evapora-se na realidade
Tristeza...
Escuto vozes a conversar com outras vozes,
Numa música propositalmente confusa.
Elas se beijam no espaço-tempo, e,
Saem em direção ao desconhecido, ao novo.
Rompem o limite e a fronteira da timidez
Atingem quem quer ser atingido
Fulguram seu ser-criador
Desvirginam o silêncio
Mas, do que me vale tudo isso? Se o som que escuto
Não é o som que quero ouvir
Saudade...
No odor há o carnaval do pecado
Uma mistura de perfume channel
Com bueiros podres da cidade
Sinto seu cheiro, seu delicioso cheiro,
Não a vejo, não a descubro
Então que volte a devassidão libidinosa dos odores santos
Tristeza...
Toco seu corpo concreto, discreto, sem teto
Acaricio suas formas, silhueta, volúpia
Lambo a áspera dobradura da face, do tempo, da solidão
Degusto o doce, o amargo, o bem , o mal
Machuco-me com pensamentos, omissão, erros
E ali está, uma parede sólida e real
Que se faz presente no caso
Construída com o suor, o sangue e as lágrimas do passado
Impossível de ser destruída
Podendo ser superada
Saudade...
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