CIDADES UMBRALINAS
No livro "Libertação" (cap. lV), André Luiz nos fala de uma cidade dos planos inferiores, onde o panorama é um dos mais desagradáveis, seja pelo local e a população, seja pela fauna e a flora. São descrições que nos causam medo e tristeza, tal é a situação dessa coletividade de sofredores.
A cidade está envolta em denso nevoeiro, em terreno acidentado e casario paupérrimo, decadente e sórdido, com exceção do templo e dos palácios do pessoal administrativo, que ficam num pequeno planalto, onde há ruas e praças bem cuidadas, cheias de povo e carros puxados por escravos e animais.
Tanto os seres humanos e sub-humanos, como a flora e a fauna causam comiseração, tal é a degeneração em que se encontram. No ar, aquele ambiente de insegurança, ao presenciar-se aquelas fisionomias patibulares. Pigmeus aos magotes perambulam pelas ruelas, como que impulsionados por uma força estranha, que os move de um local para outro, sem destino.
A ociosidade é a nota dominante.
Multidões de seres sub-humanos são utilizadas para os serviços mais rudimentares, como trabalhadores de poucas possibilidades, em regime de escravidão. Para completar esse quadro entristecedor, essa população se traja de roupas Imundas e fétidas. Entre os dirigentes predomina a roupa de cor escarlate, simbolizando bem o estado de agressividade que lhes é peculiar.
Tudo é de causar pena, inclusive a flora, porque até as plantas são desagradáveis ao olhar; mas o que mais amedronta é a grande quantidade de animais monstruosos, que se movimentam a esmo, como duendes.
Nessa cidade purgatorial, 95% da população se dedicam ao mal e à desarmonia, não existindo crianças, como se Deus quisesse poupá-las de lugar tão desolador e inseguro. Os restantes 5% são constituídos de missionários do bem, em abnegado serviço de auxiliar aqueles que demonstrem arrependimento e propensão para a reforma íntima. Trabalham anonimamente, para não despertar revolta por parte dos Senhores da Colônia. Essa população de estropiados e malfeitores, escravos e carrascos, vive sob severa vigilância de um policiamento de pessoas de semblante feroz, mais parecendo felinos à procura de uma presa. Todos, entretanto, não passam de instrumentos da Justiça Divina, que utiliza o homem para corrigir o homem.
A alimentação se dá através da vampirização dos fluidos dos encarnados que se afinem com as paixões rasteiras, sugando-lhes as energias, como se fossem lampreias insaciáveis. Essa cidade fica nas proximidades da crosta terrestre.
O plano espiritual é um mundo de infinitas situações, de conformidade com as condições morais e intelectuais de sua população, que se agrupa por afinidade; mas, como aqui, lá também existem os que governam e os que são governados, segundo a condição intelectual que alcançaram.
O importante dessa lição é que ela nos adverte para o perigo do envolvimento dessa coletividade de vampiros, que está bem próxima de nós, à procura daqueles que se afinem com as sensações inferiores, para se imantarem aos mesmos.
Como dizem os benfeitores espirituais, cada pessoa tem a companhia que deseja, segundo as suas Inclinações. E diante dessa advertência, não podemos alegar ignorância, se formos conduzidos a cidades dos planos inferiores, ao desencarnar. Vigiemos, portanto, as nossas tendências, para que não desembarquemos nessas regiões de atrozes sofrimentos.
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