Sete de julho, um sábado de 1969, finalmente chegou o dia, oficializaram o casamento, como diziam os mais velhos: “O preto no branco”. Com essa decisão o casal recebeu da sociedade um vasto caminho a percorrer não importando o que tivesse acontecido, podiam sentir-se livres, em comunhão com a sociedade. Com a assinatura desse documento indissolúvel. Lira sentiu um mal estar à sensação foi que fechara a porta atrás de si. Quando rápido pensou: Largada, separada, abandonada, rejeitada, desquitada, viúva... Não podendo ser novamente solteira.
Na hora de tirar o retrato cortando o bolo fez questão de sentar o menino na mesa perto dela e do Sílvio. Olinda o segurou dizendo: Nunca vi filho tirar retrato junto do bolo de casamento da mãe. Lira ri e diz á verdade não envergonha ninguém. Ele está aqui, portanto existe...
Nesse mesmo dia, à noite, Lira acompanhou o marido. O menino ficou com suas irmãs para ir depois, mas não pareceu para Lira uma boa solução porque ao curvar-se sobre o carrinho para despedir-se dele que dormia não conseguiu conter o choro. Olinda aproximou-se dela tentando confortá-la:
_ Seja forte menina, vai e tenha pelo menos o domingo de lua de mel, na segunda você vem buscar o menino. Ou você prefere que eu o leve para você?
Lira não teve condições de responder.
Chegando à casa que agora seria a sua, pouco falou. Ela, a sogra e o marido foram recebidos pelo cunhado Walter, irmão de Sílvio, se dizendo preocupado com a demora. Nesse momento na cabeça de Lira não existia nenhuma perspectiva, vivia o momento presente e nada mais, não pensava no que viria, parecia que se não fosse desse jeito outro teria. Seu cérebro entrou numa espécie de letargia. Antes, nos dias que antecederam o casamento, durante os preparativos, ela sentiu vontade de retribuir com a mesma moeda, dizendo não. Para os parentes a coisa mais importante era o casamento, para limpeza da honra, no entanto para ela, isso não importava. Honrar a seu ver seria perpetuar, essa missão já havia cumprido, queria casar-se por uma questão muito maior, do puro sentimento amor, o qual pegou sua dose de amor conjugal com as duas mãos, na precaução virou o frasco todo na boca, não deixando uma gota sequer da preciosa essência que a ela cabia. Não havia resolvido o problema com o Sílvio de prometer e não cumprir.
Parecia pensar nos sofrimentos que ficariam incrustados no seu íntimo, por essa pressão sentiu-se culpada, até certo ponto, de não se cuidar melhor, afinal quem chega aos dezoito já passou da idade de maior risco. Contudo, ninguém ficou sabendo que Lira namorou o tempo todo convicta de que Sílvio era casado e tinha uma filha. Não que ela não quisesse se casar era apenas uma questão de se adaptar a essa nova condição... Por fim, aos poucos, muito devagarzinho, nesse novo ambiente sua cabeça aos poucos se ajustaria. Após um banho morno certamente todos os músculos tensos do seu corpo se tornariam relaxados. No banheiro pensa: “Não vou questionar, prefiro esperar para ver a reação”.Estava decidida a não mais recriminá-lo nem fazer perguntas, deixaria o marido à vontade para falar apenas o que desejasse.
Despiu-se, entrou no banho deixando a água jorrar, massageou o corpo com sabonete e pôde sentir as tensões esvaírem-se pouco a pouco refrescando as plantas dos pés, não alimentou fantasias como mulher casada preste a ir para a cama com o marido, a quem amava, porém entalada! Precisava gritar espernear, botar para fora tudo que a sufocava. No momento, era impossível, estava na casa da sogra, precisava manter a calma, se estourasse poria tudo a perder. Afinal nem tudo estava perdido, talvez apenas remendado pelos sete lados como diz sua irmã.
De volta, não acendeu a lâmpada do quarto deixou a penumbra da luz que pendia do poste e refletia na vidraça da janela a qual deixava transparecer a silhueta do Sílvio a esperá-la. Lira com o coração preso de angustia e decepção, receosa, de frente um para o outro, no silêncio, sentiu forte emoção quando suas mãos foram envolvidas, num gesto sensível de carinho que ela ainda guardava em sua memória. Sentiu que a espera não tinha sido em vão, seu corpo havia respondido ao contato intensamente. Seus desejos também foram os dele, sentiram os palpitar dos corações, o calor dos seus corpos de tal forma no leve toque de ternura, predizia o pensamento as mais intimas vontades. Emocionados foram invadidos por imensa necessidade de amar...
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