LIRA VAI Á IGREJA
No domingo Lira e Doralice, filha de Pedro seu irmão por parte de pai, foram conhecer a igreja local. Quando entraram Lira observou que ao pé da cruz de Jesus estava uma Santa de cor negra e como não conhecia perguntou quem era. Dora respondeu com um certo ar de riso:
_Nossa Senhora Aparecida, a padroeira da nossa paróquia. Foi encontrada no rio por pescadores.
_Quem te contou isso?
_ Depois eu te explico, a missa vai começar.
Entram dois garotos vestidos com roupas iguais à do padre que os seguia, com as mãos dentro das grandes mangas. Enquanto os meninos incensavam o altar e arrumavam o cálice que o padre usaria na comunhão, Lira identificou os meninos sacristãos: Jorge (Dodó) e Alberto. Sorriu de alegria ao saber que ali estavam os seus vizinhos, desempenhando com magnitude a função. Logo se ouviu um hino de um grupo de moças vestidas de branco com um véu cobrindo os ombros. Lira sentiu o canto atravessar seu corpo, emocionada arrepiou-se. Mas não tirou os olhos da Santa. Até então só conhecia Santa de cor branca, no oratório que tinha na casa da madrinha ou nos calendários.Dora conta à história que sabe, sobre a Santa preta, encontrada no rio, por pescadores. Lira argumenta: _Bem dizem...Que português não gostam de tomar banho diário os índios os ensinarão, do jeito que nos aprendemos na escola. Dscunjuro são porcos mesmo, nem a Santa Lavaram, com tanta água existente no rio! Meu padrinho e minha madrinha de Batismo tanto que me batizaram na igreja Nossa Senhora do Desterro em Campo Grande no Rio de Janeiro, logo que cheguei de S. Fidélis.
Olha que eu conheço o Rio Paraíba do Sul. Doralice ri, porém faz sinal de silêncio pois a missa ia começar. Depois que a missa terminou, Dora a convidou para que fossem até a sacristia conhecer as meninas do coral. Quando passaram diante do altar, Dora fez o sinal da cruz e seguiram em direção à sacristia onde o padre conversava com as meninas. Quando Lira foi apresentada por Dora o coral respondeu: “Prazer em conhecê-la”. Lira fez um gesto de agradecimento e aproveitou a oportunidade para dizer ao padre que já o conhecia. O sacerdote fez uma cara de que não a estava reconhecendo. Lira foi rápida:
_O senhor ministrou a minha primeira comunhão na escola do Correia.
_Ah! Então é verdade. Com um sotaque espanhol perguntou:
_ Como se chama?
_ Lira.
_Nome bonito, Lira é uma constelação do hemisfério boreal que contém uma das estrelas mais brilhantes do céu, Vega, a nebulosa circular planetária.
O coral alvoroçou-se: Assim também nos chamaremos Lira. E o riso tomou conta da sacristia. O padre muito amável, porém com firmeza disse:
_Todos os nomes são bonitos e têm significados e torna-se de valor quando honrado. Se praticar boas ações, mais brilho terá perante a Deus. Mas deixamos de conversa, que tal convidarmos as meninas para nossa irmandade.
O coral responde:
_Já estão convidadas.
E aceitaram fazer parte da congregação das Filhas de Maria.
Ao saírem da igreja Lira emocionada por ter conhecido tantas novidades. Para completar o dia, encontrou o rapaz que agora seria seu namorado, causando inveja as meninas do lugar.
No domingo seguinte, Dora e Lira já estavam presentes à missa vestidas de uniforme branco, com um terço e um catecismo nas mãos como era praxe a todas as Congregadas Mariana. E de fato a participação das amigas tornou-se muito intensa nas atividades da igreja, tanto no aspecto cerimonial quanto nas paralelas, onde, aliás, Lira mais se destacava.
Lira com as outras meninas do coral aliam-se com as crianças menores vestidas de anjo, no altar feito especialmente no mês de maio para a coroação de Nossa Senhora da Conceição. Lira soltou a voz num canto solo em louvor a nossa senhora:
“Nome dulcíssimo. Nome de amor”.
Tu és refugio
Aos pecadores.
Entre coros angélicos,
Bela harmonia.
Ave Maria, Ave Maria...”“.
Que provocou aplausos e foi parabenizada por sua voz forte e afinada.
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