O Primeiro Namorado
Sempre arrumava um tempo para visitar os padrinhos, devido à mudança e aos compromissos, estava em falta, mais nesse final de semana, esforçou-se um pouco mais, primeiro passou na casa de Thereza sua irmã, depois de dar as notícias de todos, seguiu para a casa dos seus padrinhos, ao chegar, foi recebida com alegria, admiraram-se de tanta demora. Á noite contou o porquê demorou ir até lá, foi muito bom ter ficado conversando até tarde, pode ver na televisão o teatro de comédia em três atos, com Tônia Carrero. Logo depois foi dormir, as horas se aproximavam da madrugada, no entanto bem cedo levantou voltando á casa de Thereza para se despedir. Com uma bolsa cheia de roupas que trazia da casa da madrinha seguiu para o ponto do lotação no Magali ao chegar em Campo Grande na praça Raul Boa Ventura pegou o ônibus Ilha de Guaratiba por ser mais vazio em relação ao Barra que há essa hora tinha fila dos freqüentadores da praia.
Quando estava quase chegando em casa, a alça de sua bolsa arrebentou e um rapaz de bicicleta parou para ajudá-la. Depois de consertar, seguiram conversando até perto de sua casa. Norival, irmão de Lira, que passava de bicicleta, cumprimentou o rapaz tratando-o pelo nome e Lira, que pouco saía de casa, estava conhecendo o rapaz naquele momento, por força do acidente com a bolsa. Quando chegou em casa, mal sentou -se, veio o irmão por trás e com um enorme empurrão a jogou no chão. Lira ainda caída, chorando, perguntou o que tinha acontecido. Foi chamada dos mais baixos nomes. Dias depois o rapaz a interpelou querendo conversar, ela recusou dizendo que o irmão tinha batido nela no dia que se conheceram. Como o rapaz ficou calado, debruçado no guidão, Lira pediu para ir embora rápido antes que o irmão os visse novamente juntos. À tarde seu pai chegou do armazém trazendo notícias para ela, dizendo que o rapazinho havia pedido para namorar em casa e que tinha pretensão de casar. Por sua coragem e atitude, tinha permitido.
No sábado à tarde bateram palmas no portão, Lira foi atender, era o rapaz. Lira percebeu que ele estava arrumado, perfumado, montado na bicicleta tão brilhante que reluzia com o avermelhado do pôr do sol. Sentiu-se envergonhada por estar suja, com a roupa molhada, com os cabelos desalinhados, mas sentiu lá no fundo brotar uma sensação de ter ganhado naquele momento uma certa importância. Como estava com muita vergonha de seus trajes para ficar ali no portão, sujeita ser vista por mais alguém, pediu que ele entrasse. Enquanto colocava a bicicleta no descanso, o rapaz perguntou se ela estava sozinha. Respondeu que sim, caminhando para a varanda. E sem perder tempo, pois tinha muito que fazer antes da noite chegar foi direto ao assunto:
_ Meu pai me falou do seu pedido. Confesso que me senti importante, mas você foi precipitado, antes deveria ter conversado para saber minha opinião.
Ficaram algum tempo calados, até que ele resolveu defender-se:
_ Como que a gente ia conversar?
Lira reconheceu que ele tinha razão, pediu que fosse embora e voltasse no domingo à tarde que estaria a esperar. Satisfeito, montou na bicicleta e saiu como uma flecha.
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