Contava quatorze anos de idade, amanhecia e anoitecia trabalhando, desdobrava-se para dar conta das tarefas diárias.Vontade de ser datilógrafa, mas de que jeito? Poderia ficar sentada, bem comportada, em frente a uma máquina de escrever? Sua natureza era andar, gesticular, dançar... Gostava dos serviços da casa, fazia com prazer e alegria, atuando ou interpretando mãe dos sobrinhos, do pai, dos irmãos. Fazia de cada cômodo um requintado camarim, mostrava ao espelho que sabia interpretar, imitando os outros. Quando havia platéia, fazia enquête com o balde e a vassoura. Dirigiu grandes espetáculos, até mambembeou nos quintais, fazendo cenários com os lençóis que estendia nos varais... Depois de encerar, passar óleo nos móveis estilos chippendale, lustrar, dar brilho nas panelas, varreu o vasto quintal, molhou os canteiros onde residia um camaleão feio, porém útil. Lira havia se acostumado com ele atravessando o terreiro.
Satisfeita, cantava ao tomar banho, nada mais justo, havia de demorar, não seria muito fácil tirar as marcas da cera Cristal dos joelhos. Seu irmão resolveu fazer uma brincadeirinha dessas que muita gente gosta de fazer pra zoar. Pegou um bambu, fez uma forquilha e o camaleão que tomava seu último Sol da tarde daquele sábado de verão, foi o gaiato a ser colocado na forquilha, introduzido pelo basculante para assustar a menina. Ela gritou muito, correu de um canto a outro do banheiro e o Norival insistindo com o bambu, e o bicho se batia, torcia e retorcia o corpo, quase caía daquela altura de tanta força que fazia. Lira gritava: “Tira esse calango daquiiiii!...”. Ficou muito assustada...
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