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Amigo é pra essas coisas
Gleicilane Aparecida Torres de Souza Silva

“Amigo é pra essas coisas”.



Rio de Janeiro, 19 de agosto de 1970, no Recanto dos Bohêmios, cujo nome leva o mesmo título, em frente à orla marítima, zona sul, observa-se sentado à mesa, Orlando, solitário, bebendo sem se preocupar com o relógio que já soava 2h da madrugada.
A música que tocava, contribuía para a calmaria que enfim pairava sob os ouvidos dos cariocas.
Num desvio de olhar, Orlando observa um homem que entra no bar, cabisbaixo, como alguém que anda por andar. Depois de olhar todas as mesas que já estavam vazias avistou então Orlando, hipnotizado com a doce melodia que aos poucos ia se dissipando.
-Olá meu amigo. Cumprimentou-o,
-Olá disse Orlando a César, pedindo-o para se sentar.
César fitou-o com o olhar triste que carregava consigo, entretanto, parecia naquele instante que ele havia encontrado algo que procurava há dias: um ombro amigo para desabafar.
Depois de observar o tempo o qual não se viam, sentou-se junto a Orlando que logo o indagou a cerca do motivo de tanta tristeza.
-Foi Rosa exclamou César. Ela acabou comigo, e não sei o motivo.
Naquele instante, a conversa dos dois amigos foi interrompida por uma canção: era a canção que embalava o romance de César e Rosa, nos tempos áureos daquele romance.
Para consolá-lo, Orlando trata de justificar, que o amor é mesmo assim, e um dia sempre chega ao fim.
Não satisfeito César pede mais uma dose de campari, talvez a décima quarta daquela noite, ainda que desempregado e com aparência de mais velho, não largara o vicio que contraíra assim que Rosa se foi.
Continuou então a beber, elogiou o amigo e continuou na sua dor, que agora parecia um pouco menor.
Orlando, responde que também sofrera. Entretanto, assim como na obra Dantesca Beatriz também trouxera luz à vida de Orlando. Esse sim fora mais feliz.
Naquele momento apagam-se as luzes do palco, a banda que tocara a seis horas consecutivas, agora saíra para o repouso que lhe era de direito. Em meio ao silêncio, apenas o tilim-tim-tim das taças na cozinha podia ser ouvido do salão.
César pergunta a Orlando, se ele se lembra de Rosa, o esteio de sua dor, mas Orlando que andava meio esquecido, tratou, tratou de justificar tal aminésia.
Rosa fizera mal, muito mal a César que depois de sua partida, entregara a vida, aos jogos de azar.
A vida, não mais excitava aquele que amou e foi abandonado, agora suplicava a morte para que o levasse, afinal, talvez assim Rosa sofresse.
Nesse instante, Orlando oferece-lhe outro trago, César recusa e o agradece por tê-lo ouvido, satisfeito pela conversa e pelo reencontro, recusa também uma moeda e sai descendo as escadas, passo a passo, como se naquele salão, tivesse ficado metade da sua dor que outrora carregava consigo.
Orlando que de cima observava as luzes do calçadão, sentiu-se grande por ter amenizado, ainda que pouco, a solidão de um grande amigo que não via há algum tempo.
Afinal, amigo é pra essas coisas.












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