A televisão conversa sozinha
Enquanto me confesso em Marte,
Fantasmas assombram a minha cozinha
E o relógio avisa que já é tarde.
O telefone agoniza calado
E a memória grita coisas que me obriguei esquecer;
Derrete o gelo no copo quebrado
Que caiu antes de eu começar a beber.
Espadas de São Jorge à direita,
À esquerda: um varal pelado,
Frente a lua a espreita
De um homem dentro do próprio corpo encarcerado.
Meu juízo em cacos espalhados
Pelo chão frio da sala vazia,
Dez a doze livros empoeirados
Na estante ao lado de nenhuma fotografia.
No quarto; sob o olhar de luminárias bailarinas,
Um segundo frasco de perfume é assassinado,
Vitima da ira de uma cortina
Induzida pelo vento atormentado.
Divago; sinto saudades de um tempo,
Tempo que nem si quer sei se passou,
No espelho aos pedaços eu continuo me vendo,
Sem realmente saber quem sou.
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