Login
E-mail
Senha
|Esqueceu a senha?|

  Editora


www.komedi.com.br
tel.:(19)3234.4864
 
  Texto selecionado
NOEL PASSA LONGE
Milton Rosa Junior

Daqui, em minha janela, no oitavo andar de um prédio cuja rua fica em bairro nobre da cidade do Rio de Janeiro, consigo avistar a outra cara da moeda, a cara baixa; apesar d¢ela estar num pequeno monte e na mesma altura que a minha cara alta, a visão continua sendo de cima para baixo, evidenciando, assim, a desigualdade instalada em tempos ainda coloniais.

            São 23:30hs do dia vinte e quatro de dezembro e as luzes, do outro lado, continuam mais acesas do que nunca, até parecem que piscam para mim, dá vontade de cometer adultério social e ir até lá, deixar de lado minha vida de um padrão sócio-econômico respeitável, cheio de regras enfadonhas, e repicar sons agudos nos seus fundos de quintais.

            Essas luzes que me piscam ao longe também seduzem meu lado sentimental e orientam minhas emoções às boas obras; não como os jesuítas impondo suas convicções austeras aos nativos que eram tidos outrora inferiores, porém, sim, como o nobre asiático que, ignorando as diferenças entre realeza e plebe, originou o sentimento natalino, quando desde criança recebendo muitos presentes, distribuía-os a pequenos pobres deveras necessitados. É este tipo de convite, de aparência cintilante, a que me deparo debruçado sobre a janela, chamo isso de espírito de natal, o sentimento encubado na razão o ano inteiro, à alma retorna através de um desejo coletivo, claro que alterado geneticamente por impulsos de compra, mas quem disse que somos perfeitos, quem disse ser só o dinheiro a mover a máquina e quem disse não existir uma finalidade maior em tudo a nos rodear. É, exatamente, por ver essa luz, que me veio à idéia de acordar, no dia de Natal, bem cedinho, e ir até o hipermercado comprar dezenas de cestas básicas e alguns presentes de grande utilidade, colocá-los no meu carro e seguir em direção ao conglomerado.

            Depois de dar assistência a largos sorrisos, finalmente livres de quaisquer impedimentos e de compartilhar emoções altruísticas, decidi fazer disso um exemplo para mim mesmo e espalhar esses compromissos para diversas datas do ano, desvencilhando a confraternização dos dias comemorativos, só assim conseguiria suprir a falta do glorioso Noel e trazer à favela um pouco do tão longínquo Céu.



Biografia:
Milton Rosa Junior começou a escrever letras de música ainda jovem e depois com o desabrochar de sua literatura através de cursos ministrados na Casa Mário de Andrade em Barra Funda, São Paulo, capital começou a escrever com mais freqüência que culminou em vários contos, poesias e dois romances Desejo Incurável e A Semente disponíveis no site www.asemente.prosaeverso.net.
Número de vezes que este texto foi lido: 61700


Outros títulos do mesmo autor

Poesias NOEL PASSA LONGE Milton Rosa Junior
Cartas ÁGUA Milton Rosa Junior
Poesias A História de Perséfone Milton Rosa Junior
Poesias O Visionário Milton Rosa Junior
Poesias Tributo à Fátima Milton Rosa Junior
Poesias Felina Milton Rosa Junior
Poesias Ânima Milton Rosa Junior
Poesias O Maledicente Milton Rosa Junior
Contos Os Três Macacos Milton Rosa Junior


Publicações de número 1 até 9 de um total de 9.


escrita@komedi.com.br © 2025
 
  Textos mais lidos
Jornada pela falha - José Raphael Daher 63458 Visitas
Os Dias - Luiz Edmundo Alves 63450 Visitas
O Cônego ou Metafísica do Estilo - Machado de Assis 63251 Visitas
Insônia - Luiz Edmundo Alves 63210 Visitas
Namorados - Luiz Edmundo Alves 63206 Visitas
Viver! - Machado de Assis 63181 Visitas
A ELA - Machado de Assis 63076 Visitas
Negócio jurídico - Isadora Welzel 63035 Visitas
Eu? - José Heber de Souza Aguiar 62960 Visitas
PERIGOS DA NOITE 9 - paulo ricardo azmbuja fogaça 62898 Visitas

Páginas: Próxima Última