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Lira E Suas Bodas
Donária Salomon

Lira e as Bodas


        Caminhou toda a casa com o pano no ombro e a vassoura na mão. Entrou no quarto, encostou a vassoura na porta, abriu a janela por onde entrou ar fresco, sacudiu os lençóis, refez o formato dos travesseiros, dobrou cobertores e varrendo movia-se de um lado a outro do cômodo em todos os cantos sem se preocupar com o tempo, tinha certeza que todos os seus dias seriam iguais sempre a mesma rotina. Estava em pé na porta do quarto, pronta para repetir o feito no outro quarto, detém-se diante do grande espelho no corredor, limpa os respingo que deixaram ao se pentearem antes que saíssem para suas atividades.
Vê as marcas do tempo nos olhos cansados, ajeita os óculos para ver melhor o desgaste da pele madura, porém conservada por sua estrutura que teima em manter o viço, era tão macia... Pensa, na hora da festa...
       Disfarço o cansaço com algumas compressas de chá preto nos olhos, aplico cubos de gelo bem pequenos nas marcas de expressão, maquiagem suave, batom bronze cintilante, sombra que disfarce o inchaço das pálpebras dos olhos castanhos que brilharam até ficar transparentes, radiantes de alegria. Levanta os cabelos curtos com as mãos na altura das têmporas esboça um sorriso por não encontrar os longos cabelos castanhos cheios de vida, da plenitude da adolescência. As marcas de queimaduras nos seus braços se fazem presente, as mãos ásperas, calejadas. Não vai faltar um creme hidratante e um esmalte salmão nas unhas para realçar o brilho da aliança.
Afasta-se do espelho e admira o vestido da festa na cor lilás com cavas profundas e gola alta, um recorte saindo da cava acentuando a cintura, abrindo dos quadris até a bainha, assim disfarça a pouca cintura que ainda resta, dança na frente do espelho cantarolando: “Amapola”... Lindíssima Amapola... Eu quero seu amor, somente para mim...
Dançando entra no seu quarto, abre a janela, contempla o beija-flor que se delicia nas minúsculas flores das folhagens, sente nos lábios o néctar do primeiro beijo do seu amado, companheiro e amigo de tantos anos. Volta-se para arrumar a sua cama, percebe que não há nada a fazer, está pronta, forrada com uma linda colcha bordada com fios de ouro, grandes babados franzidos, três almofadas em formato de coração encostadas na cabeceira. Chamou sua atenção à posição de uma delas, presa no meio das outras, um pouco amassada, pegou-a para arrumá-la, então percebeu que era ela, a que dormia entre seus joelhos, beijou-a dizendo: “Ah! Foi por isso! Mesmo de roupa nova você ficou desengonçada”. Colocando-a escorada nas outras.

Percebeu sobre a cama uma caixa de presente, surpresa dos filhos. Um estojo com as alianças em ouro e prata que substituiriam as antigas. A dela esta muito gasta com o uso do sabão e o esfregar das roupas.
Tropeçou nos chinelos acolchoados no tapete, não caiu, estava segura e protegida nos braços fortes do marido que só afastou-se para que ela o visse melhor, trajava um alinhado terno cinza claro, camisa azul igual ao céu daquela tarde, reluzentes abotoaduras em prata tal como o alfinete que prendia a gravata. Conduziu-a para o quintal, onde a música se fazia aumentar seu volume para anunciar a chegada do casal.

Lira não podia acreditar, diante de tanta beleza, o quintal enfeitado, repleto de mesas com quatro lugares ornadas com toalhas de renda, em cada uma um casal de pombos em finíssima porcelana, carregando, em seus bicos um filó com simbólicas alianças na cor prata e ouro e guardanapos de papel com dizeres: “Lembrança das Bodas”. E o nome do casal escrito em prata salpicada de ouro, o bolo em formato de balança antiga, num dos pratos trazia vinte cinco moedas de chocolate simbolizando o tesouro que haviam acumulado até o presente momento, no outro estava um buquê de rosas, prova maior da convivência do casal. Lira extasiada apreciando tudo com tamanha admiração, não podendo acreditar que aqueles meninos que faziam tanta bagunça nos banheiros deixando a urina escorrendo no vaso sanitário, amarelando o piso todo, toalhas molhadas em cima da cama, tênis no meio da casa, pudessem realizar tão grandiosa festa nos seus mínimos detalhes.          O mais velho filmando, o do meio tirando fotos, o mais novo recebendo os convidados que felicitavam o casal pela data. Entre eles Lira foi apresentada a três moças que a beijaram de forma cordial. Estava bem tarde quando o último convidado se retirou. Seus pés doíam, sua coluna reclamava dos sapatos de salto altos e frente fina. Então se joga na poltrona e reflete. Ah! Aquelas moças! Desconfia que sejam namoradas dos meninos...Lembra: (Como diz o Brizola) Isso foi “interésse”...

     Havia passado uma madorna, acordando assustada com o barulho da música que tocava alto no rádio da Kombi que entrava na garagem, Os filhos chegaram das entregas.
Levantou-se e foi até o relógio, que marcava quinze horas e quinze minutos.


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