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Os domingos de advento que antecedem o Natal
Giulio Romeo

Os domingos do Advento, que precedem o Natal, são, para o pensamento filosófico, um convite à reflexão sobre o tempo e a transcendência. Este período litúrgico, marcado por quatro domingos, simboliza não apenas uma contagem regressiva cronológica, mas também um caminho de preparação espiritual e existencial que transcende o meramente linear e se projeta na profundidade do ser.

No pensamento agostiniano, o tempo é uma tensão entre o passado, o presente e o futuro — aquilo que foi, é lembrado; aquilo que será, é antecipado; e o presente, um instante fugaz, é vivido. O Advento, neste contexto, é uma vivência dessa tripla dimensão: relembramos as promessas messiânicas do passado, esperamos o cumprimento da plenitude escatológica e, no presente, preparamos nossas almas para acolher o mistério do Verbo encarnado.

O simbolismo dos quatro domingos não é acidental. O número quatro ressoa com a ordem do cosmos: os quatro elementos, as quatro estações, os quatro pontos cardeais. Assim, cada domingo do Advento é um marco de integração entre o humano e o divino, o histórico e o cósmico. Representa também o progresso interior da alma, um convite a percorrer um caminho de virtudes que conduz à luz do Natal, uma espécie de "solstício espiritual".

Em um sentido kierkegaardiano, o Advento desafia o homem a sair da superficialidade do imediato para abraçar o eterno. É um tempo de tensão existencial, em que a espera não é apenas passiva, mas ativa, uma espera cheia de angústia e esperança. O Advento é a preparação para o "salto" do Natal, quando o eterno invade o tempo.

Por fim, o Advento também nos confronta com a questão do "vir-a-ser", tão cara ao pensamento de Heidegger. Cada domingo é uma abertura para o horizonte do "ser" que se desvela no mistério da Encarnação. É a espera por Aquele que é o fundamento último do sentido, um movimento de abertura ao mistério de Deus que se faz presente no tempo.

Assim, os domingos do Advento são mais que ritos; são experiências de aprofundamento do mistério da existência, janelas para o infinito que nos lembram que o Natal não é apenas um evento no tempo, mas uma manifestação da eternidade na história. É o eterno que irrompe no finito, renovando em nós o anseio pelo transcendente.

Esses adventos são seguidos por que vertentes do Cristianismo?

Os domingos do Advento são observados predominantemente por vertentes do Cristianismo que seguem o calendário litúrgico, sendo especialmente marcantes nas tradições católica, ortodoxa, anglicana e algumas denominações protestantes. Cada uma dessas tradições aborda o Advento de maneira específica, mas todas compartilham o tema central de preparação para o Natal.

1. Igreja Católica
Na Igreja Católica, o Advento é um dos tempos litúrgicos mais importantes. É celebrado como um período de penitência e preparação espiritual. Os quatro domingos simbolizam as quatro semanas de preparação antes do Natal. A cor litúrgica predominante é o roxo, que representa penitência e esperança, exceto no terceiro domingo (Gaudete), quando se usa o rosa, sinal de alegria pela proximidade do nascimento de Cristo.

2. Igrejas Ortodoxas
Embora as Igrejas Ortodoxas Orientais também preparem o Natal, o período equivalente ao Advento é conhecido como Jejum da Natividade. Este tempo não é dividido em quatro domingos específicos, mas em um período de 40 dias de jejum rigoroso, começando em 15 de novembro e culminando na celebração do Natal em 25 de dezembro (ou em 7 de janeiro, para aqueles que seguem o calendário juliano).

3. Comunhão Anglicana
Na tradição anglicana, o Advento é celebrado de forma semelhante à prática católica, com ênfase no tema da preparação e espera tanto pela celebração do nascimento de Cristo quanto pela Sua segunda vinda. Há o uso de coroas do Advento e leituras bíblicas que enfocam as profecias messiânicas e a escatologia.

4. Denominações Protestantes
Entre os protestantes, as práticas do Advento variam:
Luteranos: Geralmente seguem um calendário litúrgico semelhante ao católico, com leituras e orações específicas para cada domingo.
Reformados (calvinistas): Alguns adotam o Advento, mas com menor ênfase na liturgia formal, focando mais na pregação e reflexão.

Metodistas: Valorizam o Advento como um tempo de espera ativa, com temas de renovação espiritual e preparação para a chegada do Salvador.
Batistas e pentecostais: Estas tradições geralmente não seguem o calendário litúrgico de forma rígida, mas algumas congregações adotam práticas relacionadas ao Advento, como o uso da coroa do Advento e sermões temáticos.

5. Outras Tradições
Denominações cristãs que não seguem um calendário litúrgico formal, como muitas igrejas evangélicas e pentecostais, tendem a celebrar apenas o Natal como uma festa isolada, sem o período preparatório do Advento.

Portanto, o Advento é observado principalmente por comunidades cristãs com um forte vínculo à liturgia e ao simbolismo, servindo como um tempo de reflexão, penitência e esperança para o nascimento de Cristo e Sua vinda final.

Como é a celebração nas igrejas cristãs no advento?

A celebração do Advento nas igrejas cristãs é marcada por rituais, símbolos e práticas que variam entre as tradições, mas que compartilham o objetivo comum de preparar espiritualmente os fiéis para a celebração do Natal e, em alguns casos, para a segunda vinda de Cristo. Abaixo, apresento como o Advento é celebrado em diferentes tradições cristãs:
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1. Igreja Católica
A celebração do Advento na Igreja Católica é rica em simbolismo e liturgia:
•     Coroa do Advento: Uma coroa de galhos verdes com quatro velas (três roxas e uma rosa) é colocada no altar ou em outro local visível. A cada domingo, uma vela é acesa, simbolizando a luz que se aproxima com a chegada de Cristo.
•     Missas Dominicais: Os textos litúrgicos, leituras bíblicas e homilias focam temas como a preparação, o arrependimento e a expectativa pela vinda do Salvador.
•     Cor Litúrgica: Durante as celebrações, os paramentos sacerdotais são roxos (penitência e preparação), exceto no terceiro domingo (Gaudete), quando se usa o rosa, representando a alegria da proximidade do Natal.
•     Confissões: Muitos fiéis participam do sacramento da reconciliação para renovar a alma.
•     Novena de Natal: Nos últimos nove dias antes do Natal, realiza-se uma novena com orações e cânticos específicos.
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2. Igrejas Ortodoxas
Nas Igrejas Ortodoxas, a preparação para o Natal (Jejum da Natividade) envolve práticas intensas:
•     Jejum e Abstinência: Durante os 40 dias antes do Natal, os fiéis são convidados a jejuar e a abster-se de certos alimentos, como carne, laticínios e, em alguns dias, azeite e vinho.
•     Liturgia e Hinos: As leituras e hinos enfatizam a expectativa da Encarnação e a purificação espiritual.
•     Vigílias e Orações: Os domingos são marcados por orações prolongadas e vigílias.
•     Ícones e Velas: Ícones de Maria grávida e outras representações do mistério da Encarnação são venerados.
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3. Comunhão Anglicana
•     Coroa do Advento: Assim como na tradição católica, uma coroa é usada e uma vela é acesa a cada domingo.
•     Liturgia do Advento: Há um foco na escatologia (segunda vinda de Cristo) e nas promessas proféticas do Antigo Testamento.
•     Música: Cânticos tradicionais do Advento, como O Come, O Come, Emmanuel, são frequentemente entoados.
•     Serviços Especiais: Algumas comunidades realizam celebrações como o Festival of Lessons and Carols, com leituras e cânticos que narram o mistério da redenção.
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4. Igrejas Protestantes
A celebração do Advento entre as igrejas protestantes varia:
•     Luteranos e Metodistas: Adotam práticas semelhantes às católicas e anglicanas, com ênfase na coroa do Advento, cânticos e sermões que refletem a espera ativa pelo Natal.
•     Reformados (calvinistas): Enfatizam a pregação e o estudo das Escrituras, com sermões temáticos sobre as profecias messiânicas e a esperança no Salvador.
•     Batistas e Evangélicos: Algumas comunidades utilizam elementos como a coroa do Advento, mas a celebração é geralmente menos formal, focando em sermões e programas especiais de Natal.
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5. Práticas Comuns e Ecumênicas
Independentemente da denominação, algumas práticas são comuns:
•     Decorações e Símbolos: Igrejas são decoradas com elementos como coroas de pinho, velas e presépios.
•     Enfoque na Caridade: Muitas comunidades organizam ações de caridade, como doações de alimentos, roupas e brinquedos para os necessitados.
•     Cânticos e Concertos: O período do Advento é marcado por apresentações musicais e corais que exaltam o mistério do Natal.
•     Reflexão e Oração: Um chamado à introspecção, oração e conversão é enfatizado em todas as tradições.

Espírito do Advento
Essas celebrações convergem em torno de dois focos principais: a memória da primeira vinda de Cristo, no Natal, e a esperança escatológica de Sua segunda vinda. O Advento é, portanto, uma jornada espiritual que convida os cristãos a se abrirem ao mistério da Encarnação e à renovação da esperança.

Que mensagem o advento traz para os fiéis

O Advento, para os fiéis, encerra em si uma mensagem profunda que transcende o mero rito religioso e se apresenta como um convite filosófico à reflexão sobre o tempo, a existência e o sentido último da vida. Ele é, simultaneamente, memória e promessa, um período em que o ser humano é chamado a recordar as raízes do mistério da Encarnação e, ao mesmo tempo, projetar-se para o futuro, aguardando a plenitude escatológica.

A filosofia nos ensina que a espera, longe de ser inércia, é um ato de abertura ao transcendente. No Advento, essa espera se reveste de esperança ativa, na qual o tempo não é um fluxo vazio, mas o "kairos", o momento propício em que a eternidade toca o presente. Os fiéis são convidados a viver cada instante com intensidade espiritual, preparando suas almas como um terreno fértil para acolher o mistério do Verbo que se faz carne.

Mais do que um período de celebração, o Advento é uma pedagogia do ser, uma experiência de transcendência que aponta para o essencial: a luz que rompe as trevas, o sentido que emerge do caos, o amor que se revela como fundamento do cosmos. Assim como as velas da coroa do Advento iluminam gradualmente a escuridão, o coração humano, quando disposto à espera vigilante, encontra na promessa divina a renovação do seu propósito e a afirmação de sua dignidade.

O Advento é, portanto, um eco da pergunta existencial que atravessa os séculos: "Quem somos à luz do mistério que nos espera?" Sua resposta, para os fiéis, é um chamado à conversão, à entrega e à vigilância, pois no aparente silêncio do tempo, Deus se faz próximo.

Ele lembra que toda espera autêntica é, em última instância, um encontro com o Outro e, por conseguinte, um reencontro com o sentido do próprio ser...


Biografia:
Professor de Ciências da Religião, Teólogo, Filósofo e Pesquisador de Ciências ocultas. Procuro a verdade e quero compartilhar meus estudos sobre o comportamento filosófico e religioso de povos e comunidades, que tem a fé, como sustentáculo de sua existência tridimensional.
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