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Trama da Solidão
Giulio Romeo

Feito um cão solitário e sem dono, um rosto caminha pela multidão.

Cansado de ser observado pelos olhos do isolamento e ouvir a voz do silencio.

Percebe que os sons do mundo são ecos que reverberam em sua mente, trazendo desconforto e desconfiança em seus sentidos.

Destrói o seu controle, que caminha junto à tropa dos seus gemidos e sussurros.

Desaprova comportamentos, julga indumentárias, projeta uma falsa moralidade em sua ótica critica e também observa a sensibilidade e a criatividade com suspeição.

Tenta sentir o gosto da liberdade, pois sem ninguém para coordenar os seus passos, inibir as suas neuroses e também acalentar a sua tristeza, segue confidenciando momentos de imaginação, ora abstrata, ora irreal, com os seus sonhos.

Se identifica com o ruído das ondas, com um pequeno grão de areia e com a solidão das marés.

Os seus pesadelos são o histórico da sua incapacidade e da sua impotência.

Seus pensamentos se confundem com a fragilidade de sua intolerância.

O Horizonte morre na imensidão da sua introspecção e no desalinho do seu disparate.

Se expressa com gestos e trejeitos, imitando o nada e se espelhando na incerteza.

Relata seus planos aos mocos e expõe a planilha de seus projetos aos cegos.

Nunca consegue terminar o poema da sua vida, escrito com decepção e desatino.

Tem como companhia, um aparelho de TV, com muitos personagens e muitos ícones.

Não conhece um vizinho, não sai do anonimato, não se comunica e também se isola, como um aracnofóbico espiritual temente a tudo e a todos.

Enxerga os alimentos como fuga à sua realidade,

Ignora o presente e desdenha da sua predestinação.

Está preso a uma ilação retórica e inconclusiva da sua verdadeira missão.

Uma forte queda para o egocentrismo, sem saber o que significa, uma forte queda para o ostracismo, sem conhecer a proscrição, sem saber que o desespero caminha lado a lado com o pânico e sem sentir que o amargo é diferente do doce.

Fica pensando em ter, em ser, em agir, em falar, gritar, em pedir... Em amar.

Mas não consegue tirar a auto piedade do coração, não consegue exaurir o sofrimento e nem tampouco consegue extenuar seus medos e suas duvidas.

Esquece por uns momentos que a sua única companhia é a lágrima.

O vazio do peito que irrita o coração se atenua e traz uma forte emoção e uma forte magia.

Tenta reagir, lutar mas não consegue se livrar do seu pavor.

A força da vontade de conquistar está aprofundada em seus desejos.

Fica cada vez mais eminente a sensação de querer sem saber o que, de atrair o que não conhece e também focar num ponto fixo, cheio de recordações do futuro.

Chega a terrível conclusão que o amor da sua vida, a sua cara metade, está escondido em um canto isolado da cidade, com o propósito de ser encontrado o mais rápido possível, dando dicas e expondo mensagens subliminares por todos os cantos, desde anúncios no metrô, em outdoors, em vitrines, panfletos ou filmes românticos.

Consegue se habilitar a ser voluntário de alguma coisa ou causa e trocar de vida.

Pensa seriamente em desatar uns nós, ajudar o semelhante, trabalhar no CVV e trocar de mal com o isolamento.

Começa a conversar com o porteiro, cumprimentar o semelhante, se fazer notar, progredir emocionalmente e espiritualmente e passar pelos cruzamentos da ansiedade sem colidir com a consciência ou com a razão.

Começa a ler livros de auto-ajuda, acessa a internet, cria um Blog, se inscreve num site de relacionamento, se envolve com as pessoas, troca e-mails, longas conversas no "Direct Message", WhatsApp e também descobre que a solidão não é um privilégio seu e sim de muitos.

Consegue entender que não é apenas um rosto e sim um protótipo da comunicação, esquecido nos labirintos da rejeição.

Mudando radicalmente de comportamento, passa a ser íntimo da alegria, da ansiedade e da vontade de sentir vontade. Consegue enfim se comunicar de corpo presente, consegue tocar, namorar, sentir, ouvir, cheirar e também consegue se empolgar (a falta de um sentimento primordial para o redescobrimento da realidade estava tão ausente, que se sentia à margem da felicidade e também uma sombra na multidão).

Aceita esse novo desafio, com dedicação, paciência e também com perspicácia.

Consegue enfim achar uma bussola e encontrar o norte, encontrar a Paz, o sorriso e também a reciprocidade.

Descobre as flores, as praças, os jardins, as fontes, passando a ignorar os vultos, os fantasmas, as sombras e encontrando Luz e Vida em tudo que pode contemplar e definir.

Se encontra em êxtase, seus prismas estão menos fragmentados, os seus pensamento mais imaginativos, mais voltados ao real e menos ao ilusório.

E por fim, chega a nobre conclusão: Tem que deixar de ser um simples rosto na multidão, achar o verdadeiro arquétipo na vida e encontrar essa tal felicidade, tão comentada e tão esquecida.


Biografia:
Professor de Ciências da Religião, Teólogo e Pesquisador de Ciências ocultas. Procuro a verdade e quero compartilhar meus estudos sobre o comportamento filosófico e religioso de povos e comunidades, que tem a fé, como sustentáculo de sua existência tridimensional.
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