Acabo de subir a Serra do Mar. Ao meu lado, Mbyci olha entre árvores uma missa. Padre Paiva mostra toda sua fé. Vejo o cacique Tibiriçá e conversamos. Diz que uma cabana será erguida. Mbyci diz:
- O que eles querem?
- Levar a palavra de Deus.
- Só isto?
- Não sei. Irei investigar.
- Onde está João Ramalho?
- Conversando ali. Vamos. Tenho que fazer algumas coisas.
João Ramalho olha e pede para conversar comigo. Diz:
- Esta terra chamará São Paulo de Piratininga.
- Perfeito. Qual a função daquela cabana?
- Ali será um colégio para expandir a palavra de Deus.
- Sei. Preciso andar um pouco.
- Não se perca por aí. Há muitos índios bravios.
- Eles são meus irmãos.
- Volte logo!
Caminho um pouco mais que nove léguas. Vejo um córrego. Noto a presença de soldados após passar por uma vasta plantação de cana. Olho bem e aproximo. Tiro meu chapéu e curvo-me. Falo:
- Boa tarde, Vossa Majestade Dom Pedro I.
Um cavaleiro logo chega trazendo uma carta. Pedro I lê e nervoso retira seu chapéu, ranca o laço presente e joga-o. Ouço:
- Independência ou Morte!
Muitos repetem aquela cena em seus cavalos levantando uma espada. Falo:
- Majestade, para onde iremos.
- Eu vou até o Solar da Marquesa. Você eu não sei! Eu preciso recuperar-me dos males intestinais.
Acompanho-o até o Pateo do Collegio e falo:
- Vossa Majestade, eu preciso seguir viagem.
- Vá e volte logo!
- Sim, Majestade!
Monto num cavalo e logo estou na Mooca. Passo diante do Cotonifício Crespi e vejo um monte de crianças e mulheres trabalhando. Desço e vou até a fábrica. Tropeço e caio no chão. Levanto os olhos e vejo o Conde Rodolfo Crespi!
- Por quê não está trabalhando? Volte ao trabalho já!
Olho para todas aquelas pessoas e digo:
- Vamos para as ruas já! Redução da jornada de trabalho, fim do trabalho infantil, vamos! Larguem tudo!
- Polícia, polícia! Chamem a polícia!
- Desta vez não passará! Vamos! Neste 1917 iremos mudar as coisas, chega!
A polícia chega e sou preso. Diante do delegado, pago uma gorda fiança, subo no bonde e parto e desço na Barão de Itapetininga. Já é noite quando vejo uma tremenda confusão. Ouço tiros!
- Ajudem, ajudem! Eles foram baleados!
Ajudo a socorrer aqueles rapazes e alguns estão mortos. Sou levado novamente à polícia! O delegado diz:
- Aos 23 dias do mês de Maio do ano de 1932, esteve presente aqui...
- Seu delegado, preciso ir ao banheiro.
- Vá e volte logo!
Rapidamente saio dali e sumo. Meu refúgio é a cidade de São João da Boa Vista. Ao chegar, vejo tropas partindo para a guerra. Olho e vejo a professora Maria Sguassábia fechando a escola e pegando uma arma jogada no chão. Surpreso, pergunto:
- Onde a senhora vai com esta arma?
- Eu não sou covarde.
- Espere que darei cobertura. Vou vestir minha farda.
- Vá e volte logo. Depois quero falar com o senhor.
- Tudo bem.
A coisa esquenta. Levas e mais levas de soldados irão para o interior combater após a declaração de guerra do 9 de Julho de 1932! Dou uma escapadela e mais tranquilo retorno volto para a São Paulo. Enfio-me diante da multidão no Vale do Anhangabaú. Há um desfile cívico. Pergunto para a pessoa ao lado:
- O que está acontecendo?
- O senhor não sabe? É o Quarto Centenário de São Paulo.
- Obrigado. Com licença!
- Volte logo. O desfile está bom. Ei, você não é estranho...
- Só um minuto!
Acelero os passos e logo chego na Praça da Sé e deparo-me com uma massa popular. Entro na muvuca e pergunto:
- O que passa aqui?
- Hoje, 25 de Janeiro de 1984, estamos pedindo Democracia, cidadão! Chega de Ditadura! Diretas Já, Diretas Já!
- Vou comprar um livro ali.
- Volte logo! Não fuja!
- Não, não!
Atravesso a rua e caio na Livraria da UNESP. O atendente vem e fala:
- Pois não, senhor?
- Desejo História do Estado de São Paulo. O que você tem aí?
- Estes 3 volumes da Imprensa Oficial.
- Pode ser. Obrigado.
Vou até o caixa e pago. Após o pagamento, a pessoa diz:
- Obrigado e volte sempre!
- Eu que agradeço.
Caminho um pouco e adentro o Pateo do Collegio. Sento. Vejo Bartira e José de Anchieta. Minha esposa tira uma foto e na saída, falo ao segurança:
- Obrigado.
- Volte sempre.
Passo na Rua 3 de Dezembro e tomo uma cerveja. Antes, dou uma passada na Praça Antônio Prado. Namoro o ostentoso edifício com a enorme bandeira paulista. Pago a conta e digo:
- Obrigado.
- Volte sempre.
- Claro, sem dúvida!
Pegamos o metrô e sumimos. Sem muitas voltas, chegamos na Bela Vista. Logo encontro um parça e ele diz:
- O samba irá amanhecer hoje, meu amigo!
- A nova quadra ficou pronta?
- Sim. Demorou mas saiu!
O samba começa e lá pelas 3 da manhã, falo:
- Está em cima da hora, vixe! Preciso ir.
- Em Cima da Hora é no outro bairro. Aqui é Bela Vista, mermão! Aqui é Vai-Vai! Vai e volta logo!
Damos uma risada e volto para casa com a minha mulher. Voltamos para o lar. O bom filho para casa, volta. A vida é assim.
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