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Uma volta por São Paulo!
Vander Roberto

Acabo de subir a Serra do Mar. Ao meu lado, Mbyci olha entre árvores uma missa. Padre Paiva mostra toda sua fé. Vejo o cacique Tibiriçá e conversamos. Diz que uma cabana será erguida. Mbyci diz:

- O que eles querem?

- Levar a palavra de Deus.

- Só isto?

- Não sei. Irei investigar.

- Onde está João Ramalho?

- Conversando ali. Vamos. Tenho que fazer algumas coisas.

João Ramalho olha e pede para conversar comigo. Diz:

- Esta terra chamará São Paulo de Piratininga.

- Perfeito. Qual a função daquela cabana?

- Ali será um colégio para expandir a palavra de Deus.

- Sei. Preciso andar um pouco.

- Não se perca por aí. Há muitos índios bravios.

- Eles são meus irmãos.

- Volte logo!

Caminho um pouco mais que nove léguas. Vejo um córrego. Noto a presença de soldados após passar por uma vasta plantação de cana. Olho bem e aproximo. Tiro meu chapéu e curvo-me. Falo:

- Boa tarde, Vossa Majestade Dom Pedro I.

Um cavaleiro logo chega trazendo uma carta. Pedro I lê e nervoso retira seu chapéu, ranca o laço presente e joga-o. Ouço:

- Independência ou Morte!

Muitos repetem aquela cena em seus cavalos levantando uma espada. Falo:

- Majestade, para onde iremos.

- Eu vou até o Solar da Marquesa. Você eu não sei! Eu preciso recuperar-me dos males intestinais.

Acompanho-o até o Pateo do Collegio e falo:

- Vossa Majestade, eu preciso seguir viagem.

- Vá e volte logo!

- Sim, Majestade!

Monto num cavalo e logo estou na Mooca. Passo diante do Cotonifício Crespi e vejo um monte de crianças e mulheres trabalhando. Desço e vou até a fábrica. Tropeço e caio no chão. Levanto os olhos e vejo o Conde Rodolfo Crespi!

- Por quê não está trabalhando? Volte ao trabalho já!

Olho para todas aquelas pessoas e digo:

- Vamos para as ruas já! Redução da jornada de trabalho, fim do trabalho infantil, vamos! Larguem tudo!

- Polícia, polícia! Chamem a polícia!

- Desta vez não passará! Vamos! Neste 1917 iremos mudar as coisas, chega!

A polícia chega e sou preso. Diante do delegado, pago uma gorda fiança, subo no bonde e parto e desço na Barão de Itapetininga. Já é noite quando vejo uma tremenda confusão. Ouço tiros!

- Ajudem, ajudem! Eles foram baleados!

Ajudo a socorrer aqueles rapazes e alguns estão mortos. Sou levado novamente à polícia! O delegado diz:

- Aos 23 dias do mês de Maio do ano de 1932, esteve presente aqui...

- Seu delegado, preciso ir ao banheiro.

- Vá e volte logo!

Rapidamente saio dali e sumo. Meu refúgio é a cidade de São João da Boa Vista. Ao chegar, vejo tropas partindo para a guerra. Olho e vejo a professora Maria Sguassábia fechando a escola e pegando uma arma jogada no chão. Surpreso, pergunto:

- Onde a senhora vai com esta arma?

- Eu não sou covarde.

- Espere que darei cobertura. Vou vestir minha farda.

- Vá e volte logo. Depois quero falar com o senhor.

- Tudo bem.

A coisa esquenta. Levas e mais levas de soldados irão para o interior combater após a declaração de guerra do 9 de Julho de 1932! Dou uma escapadela e mais tranquilo retorno volto para a São Paulo. Enfio-me diante da multidão no Vale do Anhangabaú. Há um desfile cívico. Pergunto para a pessoa ao lado:

- O que está acontecendo?

- O senhor não sabe? É o Quarto Centenário de São Paulo.

- Obrigado. Com licença!

- Volte logo. O desfile está bom. Ei, você não é estranho...

- Só um minuto!

Acelero os passos e logo chego na Praça da Sé e deparo-me com uma massa popular. Entro na muvuca e pergunto:

- O que passa aqui?

- Hoje, 25 de Janeiro de 1984, estamos pedindo Democracia, cidadão! Chega de Ditadura! Diretas Já, Diretas Já!

- Vou comprar um livro ali.

- Volte logo! Não fuja!

- Não, não!

Atravesso a rua e caio na Livraria da UNESP. O atendente vem e fala:

- Pois não, senhor?

- Desejo História do Estado de São Paulo. O que você tem aí?

- Estes 3 volumes da Imprensa Oficial.

- Pode ser. Obrigado.

Vou até o caixa e pago. Após o pagamento, a pessoa diz:

- Obrigado e volte sempre!

- Eu que agradeço.

Caminho um pouco e adentro o Pateo do Collegio. Sento. Vejo Bartira e José de Anchieta. Minha esposa tira uma foto e na saída, falo ao segurança:

- Obrigado.

- Volte sempre.

Passo na Rua 3 de Dezembro e tomo uma cerveja. Antes, dou uma passada na Praça Antônio Prado. Namoro o ostentoso edifício com a enorme bandeira paulista. Pago a conta e digo:

- Obrigado.

- Volte sempre.

- Claro, sem dúvida!

Pegamos o metrô e sumimos. Sem muitas voltas, chegamos na Bela Vista. Logo encontro um parça e ele diz:

- O samba irá amanhecer hoje, meu amigo!

- A nova quadra ficou pronta?

- Sim. Demorou mas saiu!

O samba começa e lá pelas 3 da manhã, falo:

- Está em cima da hora, vixe! Preciso ir.

- Em Cima da Hora é no outro bairro. Aqui é Bela Vista, mermão! Aqui é Vai-Vai! Vai e volta logo!

Damos uma risada e volto para casa com a minha mulher. Voltamos para o lar. O bom filho para casa, volta. A vida é assim.


Biografia:

Este texto é administrado por: Roberto75
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