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A cidade de São Paulo está largada
Vander Roberto

Estes dias estive no Pateo do Collegio no centro paulistano. Gosto de estar ali pela paz, ouvir os passarinhos cantando, uma pomba vindo beber água de forma desconfiada. Sento perto de Bartira e Pe.Anchieta. Tiro uma foto antes. Cumprimento o pessoal da recepção que vendem artigos religiosos. Dou uma volta e penso como seria em 1554 ou 1562. Viajo no tempo e volto à realidade. Quantas pessoas nasceram antes para que eu possa estar ali sentado? Teria eu o sangue de Bartira ou Tibiriçá em minhas veias?

Saio do Pateo do Collegio e começo a ver pedintes, gente dormindo ao chão, algumas barracas do outro lado da rua. Fico pensando como estas pessoas sobrevivem. Um homem pegando lixo numa cesta verde da Prefeitura chama minha atenção. Ele vasculha e acha algo. Pede um cigarro, dou um e acendo para ele. Agradece e sorri. Na situação dele eu não daria um sorriso. É desconfortável ver um homem pegando lixo pela fome. Não é para qualquer um ver aquilo.

Adentro o Solar da Marquesa de Santos. Ela morava ao lado do Pateo do Collegio. Casarão bonito, certamente, ela deveria ter diversos empregados(as) e até mesmo cativos. Olhando da sacada do casarão vejo duas realidades: a riqueza e a pobreza em poucos metros. Volto no tempo e pergunto como seria viver no começo do século XIX. Seria pior que hoje? A pobreza atual é causada pelo autoritarismo de alguns? Como melhorar a vida de milhões? Há interesse?

Saio do lugar e ando até a Praça da Sé. A minha ideia é visitar a livraria da Unesp. Adentro o local e pelo caminho vejo pessoas largadas e sem assistência. Algumas não aguentam a fome e correm para receber alguma ajuda da Prefeitura. O antigo Largo da Matriz onde estacionavam carros luxuosos no começo do século XX está cheio de gente esperando uma solução para suas vidas. Vejo algumas deitadas na escadaria da Catedral. Tento achar alguma obra e desisto.

Dou um jeito e acesso o metrô Sé. Volto para casa pensando se realmente minha cidade atende aos interesses populares. Tenho certeza que não. A cidade está suja, pichada, abandonada, cheia de pessoas em extrema pobreza. O banditismo não falta. O meu passeio histórico necessita de reflexões. Preciso descobrir a origem deste problema nesta megalópole. Onde erramos? Vou descobrindo que estudar História é extremamente importante. Onde está a raiz do problema?

Descubro que não sou representado e muito menos aqueles e aquelas que estão abandonados(as) pelo centro paulistano. Onde estão o Prefeito e o Governador? Quando passam em algum lugar as pessoas abandonadas são removidas e as ruas lavadas. Cria-se um cenário para que não vejam a miséria, a fome, a pessoa doente que poderá morrer ali por falta de atendimento, alguém que precisa de emprego. Fico sem esperança por dias melhores para tais pessoas.

Percebo que cedi boa parte da minha liberdade para os políticos. Eles(as) decidem em meu nome. Pago tributos e não quero ver pessoas passando fome, revirando o lixo como fosse a última esperança em encontrar algo para comer. Descubro que votar é importante e nada está mudando. Há algo errado. É preciso questionar e cobrar quando as coisas não funcionam. Um povo não pode contentar-se em ceder a liberdade para morar na rua e passar fome.

O mundo não pode ser o lugar de alguns sendo de todos(as). Boas palavras de conforto não significam mudanças. Não matamos a fome e nem vestimos uma pessoa adequadamente com palavras. As ações precisam ser reais e práticas. Cuidar só das necessidades mais imediatas também não ajuda. Superaremos as desigualdades econômicas em qual momento? O século XXI está ai. Tanta tecnologia e gente vivendo na extrema pobreza! Ninguém fica envergonhado(a)? Fica a reflexão.           

Vander Roberto é Analista de Sistemas tendo Especialização com MBE em Engenharia de Software. Atualmente estuda História Afro-Indígena em nível de Especialização.


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