Cinco corintianos e três palmeirenses. Essa combinação pode ser segura, sendo todos amigos e se ninguém estiver uniformizado. Ir até o Estádio do Morumbi ver Corinthians X Palmeiras, nos “medievais” anos 90, exigia um cuidado maior, porque essa década foi o período do auge das brigas de torcida. O Derby Paulista merecia alerta máximo.
Divididos, alvinegros e os infelizes alviverdes, subimos para a arquibancada. Na ida, estranhamente tudo transcorreu bem. Mal sabíamos que, como na penitenciária, se a noite está muito tranquila, significa que no dia seguinte a cadeia vai estourar; ou na guerra, mesma situação: noite tranquila significa iminente batalha. O risco de morte, pregando uma peça, guardava fortes emoções para a volta, justamente no momento de maior desatenção.
A bancada corintiana saiu contente com os três a zero. Juntando com os tristes palmeirenses, a volta seria sossegada, quem sabe até pararíamos em alguma lanchonete. Só que a maldita Caixa de Pandora foi aberta, fazendo do retorno algo quase trágico.
Os ônibus do Corinthians estavam saindo lotados. Foi quando apareceu um dos reservados aos palmeirenses, relativamente vazio, pronto para sair, parecia que estava apenas nos aguardando. Olhamos um para o outro, estávamos desuniformizados. Por que não? A resposta tácita era de anuência, fomos embarcar. Acabávamos de avançar em um hipnotizante pedaço de queijo numa ratoeira armada ou num suculento corte de bife com chumbinho.
A viagem já começou ruim, pois o coletivo pegou o caminho alvinegro. Para piorar, sofremos um intenso ataque da torcida do Corinthians, que identificou nosso veículo coalhado de palmeirenses. Nós, achando que éramos espertos, estávamos sob ataque do mais intenso fogo amigo. E assim foi o caminho: pedras e xingamentos.
O desespero era grande; apanharíamos dos palmeirenses se revelássemos nossa identidade secreta ou, calados, seríamos linchados pelos corintianos, que continuavam destruindo o ônibus. A viagem da morte teria que ser abolida ou pereceríamos junto ao inimigo.
Num horrível barulho, que deve ser igual ao de um avião prestes a colidir em uma montanha, todos clamavam para o motorista parar. Mas o “busão” parecia desgovernado, a cada pedrada o piloto acelerava mais. Numa brecha, quando o motorista se sentiu compelido a parar no farol, saltamos. Estava chovendo e terminando a tarde. Nesse cenário, deve ter sido meio ridículo nós atravessando correndo a ponte sobre o Rio Pinheiros, como quem estava na Guerra do Vietnã.
Longe do expresso maldito, tínhamos que evitar o Centro, destino dos ônibus e epicentro da efervescência da violência das torcidas. A alegria da goleada foi substituída pela tensão gerada pelo instinto de sobrevivência. Ao menos oito corintianos e palmeirenses, nesse dia, estavam unidos, mesmo que pelo medo.
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