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Viagem Maldita
Matheus R Botelho

Samuel acorda assustado sem saber onde estava. O medo e a incerteza o invadem, fazendo-o sentir calafrios; "onde estou eu?"se pergunta.
    Olha ao seu redor, vê paredes bolorentas, maculadas por fungos que há muito, se passaram dela. Não há janelas, reflete. Os poucos móveis presentes estão deteriorados e puídos, e a única luz no local provém da estranha porta retorcida entreaberta, iluminando um velho quadro, com um demônio pintado. A odiosa criatura o encarava; quanto pavor trasmitia!
    Flashes vão lhe acometendo: a viagem de última hora, os preparativos, sua mulher,  que sem saber de sua motivação, o aconselhou a não ir. Como não iria? Seu pai que há muito não via, estava à beira da morte. "velho ordinário ", diz consigo. Nunca tiveram boa relação. Sua mente segue clareando aos poucos, e ele lembra, com pavor, do acidente que o tirou da estrada. Não podia ser humano aquele vulto que atravessou a rodovia correndo, fazendo-o perder o controle. Não tem mais lembranças, pensa, desolado. Como chegou ali? Do lado de fora, um relógio badala; cada batida faz seu sangue gelar. Com medo, ele sai do cômodo; não há ninguém no corredor - ou o que sobrou de um corredor - e seu corpo treme sem motivo aparente. "Virgem Maria, protege-me", suplica. Passos se ouvem então, e guinchos como de porcos se ouve. Ele chora, não sabe a razão. Corre para o centro do cômodo, encosta com cuidado a porta, e se esconde atrás do destruído piano. Ele grita, quando a porta se arromba em um estouro. Ele suplica por socorro, embora saiba que ninguém o escutará. "Viagem maldita ", ele lamenta, entredentes.
   Samuel olha para a porta, e não vê ninguém; pensa em sair correndo, mas as pernas falham. "Não posso morrer", grita por dentro. Imóvel, ele sente mãos fortes agarrando-o por trás. Ele grita por socorro, procura pelo responsável e nada vê. Olha ao seu redor, procurando algo para se armar, e seus músculos se tornam como água quando nota o quadro, anteriormente com o demônio a observá-lo, vazio. "Santa Maria mãe de deus.." reza. Do escuro, vê os olhos demoníacos que fixamente o olha; tenta gritar, mas a voz não lhe vem. Não consegue correr, sua força se foi. Os olhos se aproximam, ele chora de horror e angústia.
"Não me deixe morrer, Deus, não me deixe morrer !".


Os policiais entram na casa. A denúncia de um carro capotado foi a motivação, e não achando o condutor, procuraram, até achar a retorcida e negra moradia no meio da Mata. Vasculham, até um deles gritar. Todos correm até lá, e vêem o corpo. Seus braços haviam sido arrancados, e seus olhos, sumido. Seu corpo, dilacerado, causava ânsias de vômito em todos. As órbitas vazias estavam sem brilho, encarando o quadro com o demônio pintado, que o encarava de volta, com um sorriso.

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