Após longas guerras, com várias sequelas
Retornou o valente ao seu lar gentil;
Coberto de honra, com marcas que assombra
Gozou tão sereno o descanso do ardil.
Com voz embargada declamou solene
- A minha história amigos, lhes dou;
Sou forte, guerreiro, e fui o primeiro
Que na linha de frente de batalhas lutou.
Respeitado por todos, guardou com orgulho a espada afiada que lhe ajudou;
E a todos que duvidavam de sua bravura
Declamava - a minha história lhes dou.
Mas passou-se os anos e do nobre valente
Ninguém mais se lembrava, abandonado ficou;
E quando com gosto, anunciava proezas
Zombavam: coitado, louco ele ficou.
O tempo, implacável, levou toda sua força
E em nada lembrava o nobre sagaz;
Restou-lhe apenas as suas lembranças e uma espada outrora afiada, que não corta mais.
Mas seus olhos brilhavam com a altivez de guerreiro
E mesmo passado o tempo, esse brilho ficou;
E quando dele zombavam, com voz embargada, lhes anunciava:
- minha história lhes dou.
Na primavera alegre, numa tarde bela
- O valente morreu! Ouviu-se falar.
Deitado sereno, com a espada no peito
No repouso eterno ele foi descansar.
Em sua lápide escreveram, como uma homenagem
"Adeus velho guerreiro, descanse em paz "
Foi logo abandonada, e até mesmo flores,
tão simples e belas, não levaram jamais.
Mas o justo juiz, que jamais se esquece
o nobre valente, sei que abençoou;
E com anjos belíssimos, sentado, declama:
- A minha história amigos, lhes dou.
|