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Meu Demônio Particular - Parte III
Matheus R Botelho

Aquele olhar aterrorizado me perturbou por noites seguidas", confidenciou meu amigo, "e os dias que se seguiram foram os mais tenebrosos de toda minha vida". No enterro de Dona Margaret, parentes e amigos chorosos estavam perplexos. A polícia apresentara a ideia de um latrocínio, pois uma gargantilha de diamantes da falecida senhora, havia desaparecido. Todos os condôminos compareceram naquela triste despedida, que os pegara de maneira tão inesperada. A mulher estava lá, e ao seu lado, uma criança diabólica, que mantinha um estranho sorriso em seus lábios cerrados.

                                                 
                      =/=

     Semanas já haviam se passado, desde a fatídica morte da velha, mas a lembrança da cabeça cortada e do corpo seco e dilacerado ainda o assombrava. " Não sei quantos dias foram, mas digo que muitos, nos quais, acordava banhado de suor, com um exacerbado medo", ele prosseguia " e pesadelos constantes me assolavam".
      Em uma noite estranha , ele acordou gritando de horror, acordando sua esposa sonolenta, que lhe advertiu que se tratava apenas de traumas da experiência vivida. Os dois estavam ainda se entendendo, quando a voz de Dona Margaret se fez ouvir, cantando uma canção:
       - O demônio vêm sim, vem me pegar.. meu demônio vêm sim, meu demônio particular..

       Os dois, com extremo horror, pularam de suas camas, o sono se fora, e o medo os inundou. Passos durante a noite toda se ouviu, e a interminável canção, que a falecida parecia cantar : " [...] meu demônio vêm sim, meu demônio particular.."

     Passaram acordados aquela noite, que parecia interminável. Temeram como crianças, sem coragem de irem investigar. Por volta das cinco da manhã, com o sol manifestando seus primeiros raios, uma risada se ouviu. Uma risada rouca, cortante. Uma risada de criança.

      Levantaram com o sol em pleno vigor, abalados e temerosos. Correram para o vizinho do lado, e o encontraram rezando, tremendo, jogado ao chão. Ele também havia ouvido. Ou o espírito da falecida estava de volta, clamando por seu sangue, ou o próprio diabo estava pregando peças, com sua canção do inferno. Ele não foi trabalhar, não estava bem psicologicamente, então, aproveitou o dia para fazer uma reunião com todos. Na hora marcada, se encontraram; eles estavam com medo; todos haviam ouvido; o diabo estava ali, diziam. A mulher porém estava com uma estranha calma. Disse que o que havia ouvido era apenas o som do vento, nada mais, e a risada, era um de seus móveis velhos rangendo. Isso, claro, dividiu opiniões, e os mais céticos, se mostraram dispostos a aderirem a essa ideia, dizendo que " a mente prega peças ." Foi acordado então que esperariam mais uma noite, cada um em seu lar. Talvez se tratasse apenas de fenômenos naturais que acentuados com o medo e trauma que tinham vivido com a descoberta do corpo e eles estavam desesperados em vão. "Não somos crianças imaturas", um homem ponderou. Com isso, voltaram cada um para seu canto, com um ligeiro medo. Esperaram atentos durante a madrugada, e então a voz se ouviu. Mas a canção estava diferente.. A voz cantava:

     - o demônio vai sim, vai te pegar.. meu demônio vai sim, meu demônio particular...

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