Cheguei a pensar que se continuássemos assim, esqueceríamos o que é felicidade. O calor de um abraço, a leve pressão de um beijo, a união das mãos que se encontram na glória da amizade. Cheguei a pensar que nada nos importaria se o mundo acabasse daqui a apouco.
Parecíamos habitantes de um “iceberg”, que o frio não maltratava, mas sofríamos a cegueira de não vermos horizontes e a certeza dos caminhos apagados. As noites insones perseguiam nossos tempos e a tragédia do nada inundava todos os dias iguais, iguais, iguais.
Clamamos aos céus, enviamos mensagens aos nossos deuses, como se eles tivessem alguma coisa a ver com isso, negando a situação do livre arbítrio. Se há culpados, não tenhamos dúvidas, somos nós. Nossos pecados estão no ar, nos rios agora secos, que viraram ruas, nos troncos que são cinzas, do pão que negamos a quem tem fome.
Se não enlouquecermos, se o remorso não nos estrangular, resta-nos fixar o olhar naquele minúsculo ponto luminoso, que poderá se transformar em uma aurora : a esperança, o sentimento mais distante da morte.
Rio, 05/07/2020
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