*4: A labareda.
Sonhando acordado,
no sonho dum mundo,
com a vida melhor,
vivendo sem sorriso,
com frio na calçada,
com a calça molhada,
com a dor do frio na calada,
da noite, calada do sonho,
calada da voz,
calada do medo,
sem som de amor na calada,
na calçada.
Sem sonho na vida,
com sonho da morte,
a morte sem dor,
a morte sem culpa de suicídio,
a morte sem memória da vida sofrida,
e o sonho de um dia de fim.
Ao sofrimento intenso da barriga vazia,
as roupas rasgadas e molhadas,
ele ainda encontra em meio a sua sede,
lágrimas de tristeza e solidão para chorar.
Nascido, criado, chorando, apanhando,
todo sujo, doído e ensangüentado,
agora ele queima.
Queimando,
seus sonhos se vão;
sua morte sem dor se vai;
agora, sua carne arde e frita
como um pano de tocha incendiando-se,
sua vida sem sonho,
torna-se em um pesadelo,
e se vai,
agora o desconhecido virá...
Dormindo,
não sonhando ele estava,
com a barriga vazia à vários dias esteve,
em uma labareda flamejante ele se encaixa.
Sempre sonhou em ser uma estrela de cinema,
sempre teve a luz dessa estrela nos olhos,
a sua agora luz se transfigurou em fogo,
esse fogo transpirante de gritos.
Um litro de gasolina;
um palito de fósforo riscado;
três demônios de classe média,
e a morte, com sua foice e o casaco preto
lhe aguardam morrer, enquanto ele,
o mendigo grita, tentando se apagar;
os demônios dançam de euforia;
a morte serenamente espera e sorri;
ela olha com ironia os garotos,
dançando em volta do carbonizado,
se divertindo com a cena.
A morte,
com o livro dos inocentes na mão,
escreve o nome do mendigo;
fecha o livro num golpe,
e já trama como será o fim dos garotos,
só o sofrimento, a dor,
a vertigem tremoroza do arrependimento,
e a morte lhes aguardam;
dez mil anos de tortura do espírito
no inferno lhes será menos que justo...
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